Quinze anos atrás, Ben Spies estava na mesma posição de Toprak Razgatliglu: um talento inquestionável alçado a tentar voos mais altos na MotoGP. E o norte-americano já deu as dicas do que o turco terá que fazer para ter sucesso na Categoria Rainha.
Campeão no WorldSBK em 2009, Spies era considerado um dos pilotos mais talentosos da época. O norte-americano ingressou na MotoGP em 2010 pela Tech3 Yamaha e no ano seguinte foi escolhido para substituir Valentino Rossi, que foi para a Ducati.
A expectativa era enorme, mas não resultou. Apesar de alguns bons resultados e uma vitória, no GP da Holanda em Assen, Spies nunca conseguiu superar o seu companheiro de equipe, o implacável Jorge Lorenzo, campeão em 2010 e 2012.
Spies ainda voltaria ao WorldSBK, mas por pouco tempo. Logo depois, o norte-americano pendurou precocemente o capacete, dedicando-se, desde então, à vida no campo e trabalhar como comentarista esportivo. Agora, o site superbikeplanet o entrevistou sobre Razgatlioglu.
“Tenho conversado muito com ele e inclusive com seu empresário Keenen Sofuoğlu sobre isso há alguns anos”, revelou Spies. “Toprak realmente quer tentar e se eu estivesse na posição dele de fazer tudo de novo, provavelmente faria o mesmo. A questão é: como as coisas vão ser? De cara, acredito que ele está, com certeza, entre os cinco, provavelmente os três pilotos mais talentosos do mundo. Mas as motos de MotoGP são diferentes de qualquer outra moto com a qual ele já correu. Então, esse é um problema em potencial; se é que existe algum problema.”
“Toprak terá que se adaptar ao seu estilo de pilotagem, a maneira como ele se senta na moto e um pouco da forma como ele freia, que é, você sabe, um demolidor de motos. Parar a moto de forma precisa e coisas assim”, explicou. “Não estou dizendo que ele não pode fazer isso, de forma alguma, mas eu acho que ele vai ter que diminuir um pouco o ritmo da forma como ele pilota de forma tão extrema. E, você sabe, aumentar um pouco a velocidade nas curvas e soltar o freio dianteiro um pouco mais cedo e, você sabe, fazer a moto andar, todas essas coisas.”
Razgatlioglu é conhecido por ser um dos pilotos que freia mais dentro da curva no WorldSBK. Spies acha que isso, por si só não vai garantir bons tempos de volta e lembra que ele próprio era elogiado pela capacidade de frenagem em seu tempo.
“Eu olho para isso desde quando eu estava na Superbike e a frenagem era um dos meus pontos fortes também. Nós meio que pilotamos parecido”, disse Spies. “Você pode ser o último a frear na MotoGP, mas isso não vai resultar em um tempo de volta consistente. Em uma corrida de MotoGP, isso pode te ajudar quando você está lutando, mas não para o tempo de volta mais rápido.”
“Esse é o calcanhar de Aquiles dos pilotos de Superbike: eles querem chegar lá no final e virar a moto, fazer o pivô para virar a moto, porque na Superbike você não tem muita aderência no limite e é assim que as coisas são. Você obtém muita tração e estabilidade na frenagem, mas não muita aderência no limite em comparação com uma MotoGP. Então você tem que aprender a utilizar isso.”
Razgatlioglu chegará na MotoGP em um momento crucial – no meio de uma mudança de pneus e regulamento. Em 2027 sairão de cena as motos de 1000cc e os pneus Michelin para a chegada de novos protótipos de 850cc com pneus Pirelli, a mesma fabricante que usa agora no WorldSBK.
“Qualquer um que pilota uma Superbike e depois tem a chance de pilotar uma MotoGP quase sempre volta dizendo que não consegue sentir nada com o Michelin. É um pneu rígido e vago. O Pirelli tem muito mais aderência devido à carcaça mais macia e muito mais sensibilidade. Será mais fácil para ele quando a MotoGP for para a Pirelli, com certeza. Ele sentirá muito mais e conseguirá controlar a moto muito melhor ao longo da distância da corrida”, acredita Spies.
