O anúncio da volta do Grande Prêmio do Brasil de MotoGP é a oportunidade perfeita para relembrarmos todas os anos em que tivemos as motos mais rápidas do mundo em nossas pistas. Momentos históricos aconteceram aqui.

Ao contrário da Fórmula 1, o Grande Prêmio do Brasil de Motovelocidade (expressão que eu não gosto, mas que serve para agrupar tanto a fase das 500cc quanto da MotoGP) aconteceu de forma intermitente desde 1987, quando eles desembarcaram em Goiânia pela primeira vez.
Foram três circuitos brasileiros que sediaram o mundial: Goiânia, entre 1987 e 1989, depois tivemos uma única edição no Autódromo José Carlos Pace (Interlagos) em 1992, antes de um período relativamente estável se iniciar em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, entre 1995 e 2004.
Com a F1 em São Paulo e a MotoGP no Rio de Janeiro, o Brasil estava muito bem recebendo as duas principais categorias de corridas no mundo. Mas inexplicavelmente eles deixaram a peteca cair e essa história morrer depois de 2004. Retomá-la tem sido uma luta. Vejamos.
Goiânia 1987 – Vencedor: Wayne Gardner

Após muitas negociações (a Argentina ja recebia o Mundial desde 1981), o Mundial de Motociclismo desembarcou em Goiânia pela primeira vez nos últimos dias de setembro de 1987 em meio ao desastre nuclear do Césio 137 (!!) com a primazia de poder decidir o título mundial daquele ano.
E assim aconteceu, com Wayne Gardner (Honda) vencendo a prova de ponta a ponta e se tornando o primeiro campeão australiano na história do Mundial. Ele superou o grande nome da época, Eddie Lawson (Yamaha) e Randy Mamola (Yamaha) que chegaram em segundo e terceiro respectivamente.
Goiânia 1988 – Vencedor: Eddie Lawson
Doze meses mais tarde, o Mundial retornou à Goiânia no fim de semana de 15-17 setembro encerrando a temporada de 1988. Gardner marcou a pole position, mas Lawson, já com o título decidido, conseguiu a liderança ainda nos primeiros estágios e venceu a prova.
Mas a imagem mais marcante, sem dúvida, foi o acidente de Randy Mamola (Cagiva) que, fora da briga pela vitória, tentava impressionar a multidão com derrapagens controladas. Em uma delas, o californiano não segurou a moto e acabou caindo bem em frente às câmeras.
Goiânia 1989 – Vencedor: Kevin Schwantz

A terceira e última passagem do Mundial por Goiânia novamente aconteceu como etapa de encerramento da temporada 1989 decidindo o título entre Eddie Lawson (Honda) e Wayne Rainey (Yamaha), que chegou com chances remotas, após uma queda crucial na Suécia.
Para conquistar o título, Rainey precisava vencer a corrida e Lawson não marcar pontos. Nos treinos, ele fez a sua parte conquistando a pole position. Mas Lawson tomou a ponta na largada e depois seria ainda ultrapassado por Kevin Schwantz, que venceria a corrida.
São Paulo 1992 – Vencedor: Wayne Rainey
Depois de 1989, o Mundial retornou ao Brasil apenas em agosto de 1992 em Interlagos, edição que me lembro vividamente de assistir pela televisão. Perigosa para motos já naquela época, a subida da junção recebeu uma chicane improvisada que foi muito criticada, além das habituais ondulações do circuito.
John Kocinski (Yamaha) marcou a pole position à frente de Rainey (Yamaha), Gardner (Honda) e Schwantz (Suzuki). Mas as atenções estavam voltadas para Mick Doohan (Honda), de volta depois de seu terrível acidente no GP da Holanda e se qualificara apenas em 14ª.
Na largada, Rainey assumiu a liderança de Kocinski e foi embora vencendo com confortáveis 13 segundos de vantagem para o companheiro de equipe. Em um esforço heróico, Doohan concluiu a prova em 12ª lugar, fora dos pontos na época. O australiano perderia o título para Rainey.
Rio de Janeiro 1995 – Vencedor: Luca Cadalora

Após uma nova pausa de três anos, o Mundial retornou ao Brasil naquele que parecia ser o seu lar definitivo: o Autódromo Internacional Nelson Piquet em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Mas inicialmente a etapa surgiu como substituta do GP da Áustria, que havia sido cancelado.
Foi uma temporada dominada por Mick Doohan (Honda), que já havia vencido seis corridas e chegava ao Brasil com uma vantagem confortável no campeonato. O australiano anotou a pole position, mas na corrida, o jovem Luca Cadalora (Yamaha) conseguiu superá-lo e ficou com a vitória.
Rio de Janeiro 1996 – Vencedor: Mick Doohan
Em 1996, Doohan (Honda) ampliou ainda mais o seu domínio, conquistando 8 vitóras. Uma delas foi no GP do Brasil, quando também garantiu a pole position e a volta mais rápida. Mas o seu companheiro de equipe Alex Crivillé não deu trégua e chegou apenas 0s4 atrás.
Nessa época, Alex Barros (Honda) já havia se transformado no maior nome do motociclismo brasileiro e corria com uma moto nas cores da bandeira nacional. Mas competindo pela modesta equipe de Paolo Pileri, o brasileiro não teve como brigar pela vitória e chegou em quinto.
Rio de Janeiro 1997 – Vencedor: Mick Doohan

Se Doohan já havia sido dominante em 1996, ele simplesmente massacrou os adversários em 1997, com nada menos do que 12 vitórias (em 15 etapas!) incluindo o GP do Brasil, realizado em 3 de agosto, ainda que por uma pequena vantagem de 0s7 para o japonês em ascensão Tadayuki Okada.
Decidido a fazer mais bonito do que no ano anterior, Barros (agora na Gresini Racing) acabou caindo na última curva da última volta quando brigava com Nobuatsu Aoki e Norick Abe pela quinta posição. Essa eu lembro bem de assistir, principalmente pela decepção decorrente dessa queda…
Rio de Janeiro 1999 – Vencedor: Norick Abe

Removido do calendário de 1998 devido a problemas organizacionais, o GP do Brasil retornou em 1999 no mês de outubro. Com Doohan se aposentando após um grave acidente na Espanha, essa foi a última corrida sem nenhum campeão na pista até o GP de Aragão de 2020.
A vitória ficou com o saudoso Norick Abe (Yamaha) e seus cabelos esvoaçantes. Com a sexta posição, Alex Crivillé (Honda) conquistou o primeiro título da Espanha na Categoria Rainha. Além dele, um jovem Valentino Rossi (Aprilia) venceu a prova das 250cc e o título neste evento.
Rio de Janeiro 2000 – Vencedor: Valentino Rossi

Novamente em ascensão, Alex Barros (Honda) pela primeira vez tinha chances reais de vitória. A pole position ficou com Max Biaggi (Yamaha), mas na corrida, Barros saltou para o segundo lugar e ficou perseguindo Valentino Rossi até a linha de chegada, seu melhor resultado em casa.
Com uma discreta sexta posição, Kenny Roberts Jr. (Suzuki) sagrou-se campeão mundial nesta corrida, este que foi o último título mundial da marca japonesa 2020 com Joan Mir. Nas 250cc, a vitória ficou com o inesquecível japonês Daijiro Kato.
Rio de Janeiro 2001 – Vencedor: Valentino Rossi

Em 2001, a nossa etapa aconteceu em novembro, encerrando aquela temporada que seria a última das 500cc dois tempos na história. No ano seguinte, sofisticados motores de 990cc e quatro tempos entrariam em cena dando início a “era MotoGP” como a conhecemos hoje.
A corrida foi dividida em duas partes, pois a chuva causou sua interrupção e os tempos agregados determinaram o resultado final. Rossi (Honda) ficou com a vitória, seguido de Carlos Checa (Yamaha) e Biaggi (Yamaha). Nas 250cc, Daijiro Kato venceria pela última vez antes do seu acidente fatal no GP do Japão de 2003.
Rio de Janeiro 2002 – Vencedor: Valentino Rossi

Em 2002, o GP do Brasil aconteceu no fim de semana de 20 a 22 de setembro quando restavam ainda quatro provas para o término da temporada. Mas, correndo com uma Honda RC211V de quatro tempos, Valentino Rossi foi tão dominante que pôde comemorar o seu quarto título por aqui mesmo, nas boates cariocas após mais uma vitória.
Ainda de Honda NSR 500 dois tempos, Alex Barros vinha fazendo aquela que seria considerada a sua melhor temporada. Mas o brasileiro não tinha equipamento para vencer Rossi, Max Biaggi (Yamaha) e Kenny Roberts Jr (Suzuki), todos correndo em equipes de fábrica que chegaram à sua frente.
Rio de Janeiro 2003 – Vencedor: Valentino Rossi

Rossi gostava do Brasil e parecia se dar bem no circuito de Jacarepaguá, onde sempre foi forte. Na edição sediada em setembro de 2003 não foi diferente, quando marcou a pole position, a volta mais rápida e venceu apos 24 voltas controlando Sete Gibernau (Honda) e Makoto Tamada (Honda).
Olhando em retrospecto, o mais interessante aconteceu nas 125cc, corrida vencida por um desconhecido Jorge Lorenzo (Derbi), a frente de Casey Stoner (Aprilia) e Alex De Angelis (Aprilia). Essa foi a primeira vitória do piloto espanhol no Campeonato Mundial.
Rio de Janeiro 2004 – Vencedor: Makoto Tamada

Contrariando os anos anteriores, o GP do Brasil de 2004 aconteceu a meio da temporada, entre 2 e 4 de julho, cedo demais para qualquer decisão de título. Makoto Tamada venceu na MotoGP, o sumido Sebastian Porto nas 250cc e o promissor Hector Barberá nas 125cc.
Em essência, pode-se notar claramente que o Brasil e a MotoGP já protagonizaram alguns capítulos mais incríveis da história desse esporte. Fica a nossa expectativa de que a etapa efetivamente volte ao calendário em 2026 e não fique apenas na promessa como nos últimos anos.