A vida de quase todos os motociclistas não seria a mesma não fosse o talento irrequieto de Soichiro Honda, fundador da marca que leva o seu nome e hoje está por toda a parte.

Nascido em 17 de novembro de 1906 em um pequeno vilarejo próximo à Hamamatsu (que se tornaria um dos maiores polos industriais do Japão), Soichiro Honda tinha pouco interesse em suas atividades escolares, mas um insaciável desejo de aprender mecânica e tecnologia. Seu primeiro emprego foi em uma oficina de bicicletas, motos e automóveis em Tóquio.
Aos 22 anos, com o apoio do seu chefe, Soichiro voltou à Hamamatsu para abrir uma filial. Em 1931 registrou sua primeira patente: aros de metal, que viram a substituir os aros de madeira até então comuns. Nessa época também começou a desenvolver um gosto por corridas, tanto de carros quanto de motocicletas.
Mas seu talento não era correr, era criar os meios para que competidores vencessem. E, em 1936, após um grave acidente em que danificou gravemente seu olho esquerdo e feriu seu irmão, Soichiro decidiu parar de disputar corridas e abriu sua primeira empresa, a Tōkai Seiki, que produzia anéis de pistões para a Toyota.
Soichiro foi bastante atuante na Segunda Guerra Mundial até que um ataque de B-29 destruiu as instalações da sua empresa, que foi vendida para a Toyota. Honda usou o dinheiro para fundar o “Honda Technical Research Institute”, que montava bicicletas com motores auxiliares, um verdadeiro sucesso entre a população bastante empobrecida da época.
A fundação da Honda Motor Company

O conhecimento adquirido ao longo dos anos propiciou Soichiro a criar suas próprias motocicletas. Assim, em 24 de setembro de 1948, foi fundada a Honda Motor Company, sua última e maior empreitada. O primeiro modelo foi o “Dream Type D”, que tinha um um motor de dois tempos de 98cc refrigerado a ar.
Soichiro, no entanto, não via esta tecnologia como sustentável, então, a partir de 1951, decidiu que quase todas as suas motocicletas seriam de quatro tempos. A Honda “Dream Type E” vinha com motor de 146cc quatro tempos e permaneceu nessa configuração por toda a sua vida útil.
A partir dos anos 1960, o Japão começou a ser reconhecido com um dos povos mais inventivos e trabalhadores do planeta experimentando um impressionante crescimento econômico. Com a Honda isso não foi diferente, abrindo sua primeira fábrica fora do Japão na Bélgica em 1962.
O Brasil desde o início foi considerado um ponto estratégico importante. A Honda iniciou suas operações no país em 1971 e criou a “Moto Honda da Amazônia” nos anos seguintes, antes mesmo de os Estados Unidos abrirem sua fábrica, em Marysville, Ohio, em 1982. Hoje, são nada menos do que 31 plantas ao redor do planeta.

Tão importante quanto seus produtos, foi o envolvimento de Soichiro Honda com o esporte a motor. Em 1954, o empreendedor visitou a Ilha de Man. Ele deu uma olhada em tudo, comprou rodas, pneus, carburadores, freios, amortecedores e levou tudo ao Japão para copiá-los ou melhorá-los.
As primeiras máquinas de competição foram testadas exclusivamente no Japão em corridas nacionais. A volta à Europa aconteceria apenas em 1959 com sua própria equipe, ano em que também entrou no Mundial de Motociclismo. A primeira vitória ocorreu dois anos depois, assim como o primeiro título.
A estreia na classe principal, as 500cc, aconteceria apenas em 1966, ao mesmo tempo em que entravam na Fórmula 1. Mike Hailwood e Jim Redman alinharam a famosa RC181 no GP da Alemanha ganhando prova com 26 segundos de vantagem. O título só não veio porque a MV Agusta tinha como piloto um tal de Giacomo Agostini.
Levaria mais de uma década até a Honda finalmente triunfasse no motociclismo com a fundação da Honda Racing Corporation (HRC) em 1982. Desde então, máquinas maravilhosas, como NSR500, VRF750R e RC211V foram produzidas. Pilotos como Freddie Spencer, Wayne Gardner, Mike Doohan, Valentino Rossi, Casey Stoner e Marc Márquez ganharam um lugar na história graças à empresa.

Isso para não mencionar sua brilhante história no automobilismo. Foi com motores Honda que Nelson Piquet e Ayrton Senna foram campeões na Fórmula 1 em 1987, 1988, 1990 e 1991. Depois desse período inesquecível, a marca voltou suas atenções para a Fórmula Indy e não descansou até dominar também a categoria norte-americana.
Enquanto tudo isso acontecia, Soichiro Honda observava à distância. Ele deixou a presidência da empresa em 1973, onde permaneceu como diretor e foi nomeado “conselheiro supremo” em 1983. Seu status era tal que a Revista People o chamou de “Henry Ford japonês”.
Ele também gostava de esquiar, jogar golfe, voar de asa delta e balão, além de ser um artista talentoso. Sua morte aconteceu em 5 de agosto de 1991, aos 84 anos, por falência hepática. Alguns dias depois, Ayrton Senna dedicaria sua vitória no GP da Hungria à Soichiro.
Hoje, sua empresa é tamanha que soa quase onipresente. Virou algo comum, batido. E o ser humano, ávido por novidades, começou a olhar para outros fabricantes. Mas você, dono de Honda, não se sinta diminuído. Você tem um produto de grande história e respeito.