A Yamaha está realizando celebrações dos 40 anos da linha Ténéré na Europa e nos Estados Unidos. Mas o Brasil está de fora, pois atualmente não conta com nenhum modelo com o lendário nome.
As origens do nome começam muito antes disso, como sempre acontece, nas competições. Ténéré é o nome de um deserto no centro sul do Níger, país africano. Tal como Sahara, a palavra árabe significa “deserto” e é usada para se referir à região.
Foi no Deserto do Ténéré que lendário Thierry Sabine vagou perdido por três dias e chegou a ser dado como desaparecido. Miraculosamente um piloto de avião o localizou quase por acaso. Sabine, então, prometeu que faria na região o maior rali de regularidade já concebido. Nascia o Paris-Dakar.
E foi nessa competição que a motocicleta que daria origem à primeira Ténéré brilhou. Pilotando uma Yamaha XT500, Cyril Neveu arrecadou as primeiras edições do Paris-Dakar, em 1979 e 1980 junto com o lendário Team Sonauto, que marcou as competições nos anos 1980.
A primeira Yamaha XT600Z Ténéré foi apresentada no Salão de Paris de 1982 e introduzida no mercado em 1983. Com tanque de combustível estilo vulcão, farol carenado e pintura de guerra, a motocicleta agradou em cheio aos motociclistas que assistiam ao Dakar na TV.
A segunda geração chegou em 1986 trazendo como grande novidade a partida elétrica. Com válvulas maiores, carburadores recalibrados e uma nova caixa de ar, a motocicleta chegava a 46 cv, suficientes para empurrá-la a mais de 160 km/h.
Um completo redesenho aconteceu em 1988 com a introdução da terceira geração, conhecida internamente como 3AJ. Nessa época, a concorrência já tinha aparecido, principalmente com a Honda África Twin e com a Cagiva Elefant.
O visual desértico foi reforçado com uma grande carenagem dianteira que abrigava dois faróis redondos e um pequeno para-brisa. O para-lama ficava rente à roda dianteira. O motor, embora ainda com 46 cv, recebeu pequenas alterações que melhoraram a durabilidade.
No início dos anos 1990 a Ténéré era a moto adventure mais aclamada e cobiçada do mundo. Muito também disso se deve ao enorme sucesso do piloto francês Stéphane Peterhansel, que dominava o Dakar na mesma época, vencendo quase todas as edições em uma década!
Nesse meio tempo, a Yamaha desenvolveu uma versão ainda maior, a XTZ 750 Super Ténéré. Com motor de dois cilindros em linha, cinco válvulas e tanque de combustível de 26 litros, era a motocicleta mais sólida que havia para percorrer longas distâncias com algum conforto.
O ano de 1991 trouxe a quarta geração, agora chamada de XTZ 660 Ténéré, impulsionada por um novo motor monocilíndrico de 5 válvulas, que rendia um máximo de 48 cv. A carroceria ficava mais compacta e envolvente, aposentando os faróis redondos duplos.
Seguindo a tendência de maior uso em estradas do que o no Off-Road na época, a capacidade do tanque de combustível foi reduzida para 20 litros. Além disso, o curso das suspensões foi encurtado para 220 mm na dianteira e 200 mm na traseira. Já tinha pouco a ver com a Ténéré original de 1983.
Essa foi a geração que adentrou os anos 1990, com uma atualização em 1994. Os faróis duplos voltaram envoltos em uma nova carroceria mais moderna. Chassi e motor permaneceram os mesmos até a descontinuidade do modelo em 1997. A Super Ténéré já havia parado em 1996.
Após as conquistas de Stéphane Peterhansel, a Yamaha perdeu o interesse no Dakar e aparentemente em todo o segmento adventure. As representantes off-road da marca nesse período eram apenas a XT 600E e a sua evolução, XT 660R, uma trilheira de grande porte que marcou os anos 2000.
Levaria praticamente uma década até a Yamaha reativar o nome Ténéré com o modelo XT 660Z, já usufruindo o legado de sua própria história. Quadro e motor, um monocilíndrico de comando simples e refrigeração líquida, eram todos derivados da XT 660R.
Nessa nova fase, o nome constituiu família. Em 2010, a Super Ténéré estava de volta, com um modelo criado do zero, a XT 1200Z, com um poderoso motor de dois cilindros em linha, DOHC, 8 válvulas e refrigeração líquida que rendia 110 cv e 11,6 kgf.m de torque.
Esperta, a Yamaha do Brasil, aproveitando o apelo do nome, desenvolveu por conta própria uma versão de 250cc totalmente baseada na trilheira XTZ 250 Lander. O modelo agradou em cheio, principalmente pelo seu baixo preço e grande versatilidade, não se intimidando a encarar longas viagens.
Todos esses três modelos, XTZ 250, XT 660Z e XT 1200Z fizeram grande sucesso em suas respectivas categorias e só saíram de linha devido ao enrijecimento das leis antipoluição, o que muitas vezes obriga um redesenho completo do motor e não vale a pena financeiramente falando.
Após a saída da XT 660Z e XT 1200Z em 2018, a Yamaha resolveu substituir ambas com um único modelo inteiramente novo, a Ténéré 700, baseada na plataforma da MT-07. Disponível em vários países, inclusive no Chile, os brasileiros continuam apenas sonhando com ela, cinco anos depois de sua introdução.
Por aqui, a XT600Z Ténéré original foi, ao lado da Honda CB750F, as únicas motos “grandes” disponíveis no no mercado brasileiro por algum tempo até a abertura das importações em 1991. Hoje, uma delas, quando aparece em um evento, tem aclamação garantida, como uma celebridade.
A “Ténérézinha” continuou até o ano modelo 2019, quando foi substituída por uma nova versão da XTZ 250 Lander, que junta os elementos das duas motos. Uma Honda XRE 300 da Yamaha, por assim dizer. Estranhamente, o departamento de marketing dispensou o apelo do lendário nome.
Eis que chegamos ao momento atual, em que a Yamaha do Brasil não tem um modelo oficialmente chamado de “Ténéré” para participar das celebrações de 40 anos do nome – que certamente renderiam likes, visualizações, presença de mídia e, é claro, vendas.
Recentemente, a Yamaha anunciou um grande plano de investimentos e uma mudança de sede para facilitar a introdução de novos modelos, assim como a logística. O primeiro resultado é a chegada da Yamaha R15. Chegará a vez da Ténéré 700? O tempo vai dizer.