Em sua perseguição pelo segundo título mundial, a Ducati assumiu a liderança da MotoGP em termos de avanços tecnológicos. Um dos mais interessantes é o chamado “Holeshot”, dispositivo que regula a motocicleta para que tenha uma largada mais precisa.
A palavra “Holeshot” vem do Mundial de Motocross. Na modalidade Off-Road, serve para definir o piloto que passa primeiro pela primeira curva, uma descrição que combina perfeitamente para sua equivalente On-Road, a MotoGP.
Trata-se de um sistema mecânico que evita que a roda dianteira levante durante a aceleração. Até então, o mecanismo habitual para evitar que isso acontecesse era o conhecido antiwheelie, que limita eletronicamente a potência, mas que não aproveitava uma das maiores virtudes da Ducati: a aceleração de seu poderoso motor V4.
Isso começou a mudar nas últimas corridas de 2018 quando a Ducati começou a testar a ideia concebida por Gigi Dall’Igna: um dispositivo mecânico que comprime o amortecedor traseiro antes da largada. Dessa forma, a altura da motocicleta diminui, alterando sua geometria e comportamento para esse momento específico da corrida.
Uma borboleta extra foi instalada abaixo do guidão esquerdo da motocicleta e cabe ao piloto acioná-la somente quando já estiver posicionado no grid. Naturalmente essa geometria só é válida para a largada. Portanto, o amortecedor traseiro deve voltar à sua posição normal e isso acontece assim que o piloto freia na primeira curva, descomprimindo o amortecedor traseiro.
Às vezes o sistema não funciona. No GP do Catar de 2021 vimos o que pode acontecer com Franco Morbidelli: o piloto da Yamaha não conseguiu desbloquear o sistema na primeira curva e passou a corrida inteira com o amortecedor desconfigurado. Resultado: chegou em 18º com enormes problemas de estabilidade.
Mas também há um exemplo de como o Holeshot tornou-se algo vital na MotoGP: Enea Bastianini, campeão da Moto2, fazendo a sua estreia na MotoGP, esqueceu-se de acionar o sistema perdendo várias posições. É que agora, o dispositivo já é utilizado por quase todas as equipes do grid.
Honda, Yamaha, Suzuki, KTM e Aprilia contam com seus próprios dispositivos adaptados às características de suas motos. A Ducati e Dall’Igna, contudo, estavam um passo a frente e mais recentemente começaram a utilizar um Holeshot para a roda dianteira e também que funciona durante toda a corrida e não apenas na largada.
Mudar a geometria da moto antes de cada curva é o sonho de todo engenheiro. O Holeshot pode não mudar radicalmente a geometria, mas ajuda a controlá-la. Hoje os pilotos precisam estar atentos à ponta da asa da borboleta antes de cada curva, cada vez mais lidando com coisas que têm pouco a ver com a direção. Mas o ganho conseguido, especialmente quando partem das curvas mais lentas, é significativo.
É claro que as outras equipes não estão paradas e já começaram a implementar dispositivos semelhantes em suas máquinas. O resultado felizmente tem sido positivo: a MotoGP vive um dos momentos de maior igualdade mecânica em tempos. O GP do Catar teve a menor distância entre o vencedor e o 15º colocado na história: apenas 8,9 segundos. E quem mais ganha com isso é o telespectador.