Tudo o que precisava ser dito sobre Valentino Rossi já foi dito. Suas vitórias, seus recordes, sua importância. Mas o que provavelmente mais sentiremos falta é o seu carisma, que transbordava depois de vitórias com comemorações absurdamente geniais.
As travessuras pós corrida se tornaram uma marca registrada de Rossi. Não que antes não acontecessem, mas eram muito mais contidas. E as de hoje, pode ter certeza, são meras imitações. Jorge Lorenzo tentou, Marc Márquez também antes de desistirem, pois viram que era impossível superar o mestre, pelo menos nesse quesito.
Foram 115 vitórias, cada uma com um significado especial e separamos as 10 celebrações que definiram a identidade de corrida desse verdadeiro Ferris Bueller do motociclismo. Valentino Rossi não foi apenas um piloto especial, mas também uma pessoa especial.
10 – Donington Park, 2005: Tocando violino na chuva
Em 2005, Rossi dominava completamente a MotoGP. Ele e sua Yamaha M1 eram um casal perfeito e a concorrência não chegava nem aos pés. Mas no GP da Inglaterra, como quase sempre, o tempo estava terrível, assim como foi a largada de Valentino, que ficou para trás na pista encharcada.
Mesmo assim, Rossi não teve muitas dificuldades em deixar todo mundo para trás na linha de chegada, quando se levantou da moto e começou a tocar um violino imaginário: “Eu pensei que era como uma sinfonia de violinos – perfeito, então decidi que se eu ganhasse faria esta celebração na linha de chegada!”
09 – Le Mans, 2008: na carona de outro ícone
Ao vencer o GP da França de 2008, Rossi atingiu a 90º vitória no Campeonato Mundial, igualando a marca de Angel Nieto, lendário piloto espanhol vencedor de treze títulos (supersticioso, ele chamava de 12+1) nas 50cc e 125cc. E quem estava o esperando após a linha de chegada? O próprio Angel Nieto, que assumiu o controle da Yamaha M1!
Amicíssimos, Nieto deu a volta de honra inteira aos comandos da Yamaha, enquanto Rossi fazia estripulias no “banco” traseiro com uma bandeira “90+90”. Da mesma forma, quando Valentino alcançou 76 vitórias, ele segurou uma placa que dizia “Desculpe Mike” em referência ao grande piloto inglês Mike Hailwood.
08 – Barcelona, 1998: Oswaldo, o frango, aparece
Para entender essa é preciso contextualizar um pouco: Osvaldo era um patrocinador fictício de um criador de frangos local que estampava as carenagens da Aprilia RS250 de Rossi quando corria na então Categoria Intermediária em 1998, seu primeiro ano nas 250cc.
A imprensa italiana ficou perplexa com este novo adesivo e vasculhou a Itália para saber mais sobre ele. Tudo acabou se tornando uma grande piada e Osvaldo, o frango, fez uma grande aparição na garupa de Rossi após vencer o GP da Catalunha, no circuito de Barcelona.
07 – Sepang, 2005: no reino de Branca de Neve e os Sete Anões
Após uma temporada absolutamente estelar, em 2005, Rossi garantiu o título mundial com duas etapas de antecedência…com um segundo lugar no GP da Malásia, em Sepang. Foi uma rara celebração que aconteceu sem Valentino ter assegurado a vitória.
Mas esse foi um doce segundo lugar. O resultado garantiu-lhe o seu sétimo título mundial desde as 125cc e a comemoração não poderia ter sido mais criativa: com uma branca de neve e os principais membros de seu fã-clube fantasiados de sete anões! Perfeito para uma temporada de fábulas, realmente.
06 – Sepang, 2004: varrendo os rivais
Quando Rossi trocou a Honda pela Yamaha foi um choque. A marca da asa dourada dominava a MotoGP, enquanto que a dos diapasões era francamente decadente. Mas Valentino tinha um plano: mostrar que era o piloto e não a moto quem fazia a diferença nas corridas.
E foi exatamente isso o que aconteceu na temporada 2004. Provando que quem ri por último, ri melhor, Rossi superou os rivais Max Biaggi e Sete Gibernau sendo campeão no GP da Malásia com duas rodadas de antecedência. Depois de vencer a corrida, Valentino lançou o serviço “La Rapida”, o melhor em limpeza de asfalto!
05 – Mugello, 2002: excedendo o limite de velocidade
Voltando aos seus já longínquos dias de Honda, Rossi dominava a Categoria Rainha com extrema facilidade e as más línguas diziam que isso só acontecia graças às qualidades técnicas de sua RC211V, uma motocicleta com motor V5 incrivelmente rápida, principalmente em retas superando as 200 mph (320 km/h).
Após vencer o GP da Itália, realizado em Mugello, circuito com uma das mais longas retas de todo o calendário, Rossi e seu fã-clube resolveram ironizar os comentários, bolando uma situação em que o piloto recebia uma multa por exceder o limite de velocidade de 200 mph da Policia Italiana.
04 – Brno, 2003: o condenado
Como você já reparou, a maioria das brincadeiras tem muito a ver com o contexto em que Rossi vivia e essa é a graça. No GP da República Checa de 2003, o piloto estava sendo muito criticado pela sempre fervorosa mídia italiana. Quando vencia era “maior que o Papa”. Quando perdia era porque “tinha perdido o interesse”.
Por isso, após vencer o GP da República Checa de 2003, Rossi trouxe os principais membros de seu fã-clube vestidos de presidiários (!!) e munidos de marretas para quebrar rochas. A mensagem era: com todos sempre esperando a sua vitória, Rossi era um homem condenado… a vencer. Sacou?
03 – Jerez, 2007: Boliche
Em 2007, o regulamento da MotoGP mudou. Saíram de cenas as motos originais de 990cc e entraram as pequeninas e estranhas 800cc, um pedido de alguns como Kenny Roberts e da Honda, que queria dar uma máquina mais adequada ao seu novo pupilo, o diminuto Dani Pedrosa.
Casey Stoner venceu a etapa de abertura, no Catar, mas Rossi não demorou a estrear a nova fórmula na etapa seguinte, o GP da Espanha, em Jerez. O italiano comemorou a conquista com membros do seu fã-clube fantasiados de pinos de boliche, devidamente derrubados por Valentino.
02 – Mugello 1997: caso de amor com “Skiffer”, a boneca inflável
A primeira comemoração inusitada de Rossi ainda é uma das melhores. Aconteceu no GP da Itália de 125cc, em Mugello. Na volta de comemoração, Rossi dá carona a uma boneca inflável rebatizada para a ocasião de “Skiffer”, em homenagem à Top Model Claudia Schiffer!
A zoeira era mais endereçada à seu eterno rival, Max Biaggi, que tinha sido fotografado pelos paparazzi com a supermodelo Naomi Campbell. Na época, “Mad Max” era a grande vedete do motociclismo italiano, tricampeão a caminho do quarto título, enquanto Valentino tinha apenas quatro vitórias. O jogo ia virar em breve.
01 – Jerez, 1999: da pista para o banheiro
De todas as comemorações, essa é provavelmente a mais bizarra. No GP da Espanha de 1999, Rossi venceu a sua primeira corrida do ano, uma temporada que marcaria a conquista do seu título nas 250cc. Após descer pela reta, Valentino encostou sua Aprilia no guard-rail e entrou em um banheiro químico improvisado!
Anos depois, lembrando sobre suas comemorações malucas, Rossi recorda-se de Jerez 1999 como a sua favorita, tanto que repetiu a cena dez anos depois na MotoGP. Talvez a mais lição mais importante que Valentino deixa para as próximas gerações é: acima dos números e recordes, nunca deixe de se divertir.