É tempo de GP dos Estados Unidos. Então, que tal relembrar a era de ouro dos norte-americanos no Mundial de Motociclismo? Uma era que a MotoGP está fazendo de tudo para reviver nos próximos anos.
Quem teve a oportunidade de assistir ao Mundial de Motociclismo nos anos 1980 e 1990 não tem do que se queixar. Assim como na Fórmula 1, aquela geração de pilotos era especial e, para muitos, ainda é considerada a melhor de todos os tempos.
Se hoje o motociclismo espanhol é o grande exportador de talentos, naquela época, a “produção” vinha dos Estados Unidos. Depois que Kenny Roberts irrompeu a cena, sendo campeão três vezes seguidas entre 1978 e 1980, uma verdadeira enxurrada de pilotos – todos extraordinários – surgiu, elevando o nível e emprestando um carisma nunca antes visto ao motociclismo.
O primeiro descendente de Roberts foi Freddie Spencer, uma descoberta da Honda, campeão em 1983 e 1985. Nesse ano, inclusive, ele conseguiu a proeza de conseguir os títulos das 500cc e 250… no mesmo ano! Mas a Yamaha não ficou parada e trouxe o cerebral Eddie Lawson, que faturou o caneco em 1984 e 1986.
Entre eles, havia outro piloto muito especial: o genial Randy Mamola. O californiano nunca conseguiu ser campeão mundial, mas venceu muitas corridas e, com um carisma transbordante, era o favorito do público, que fazia questão de entreter com uma série de maluquices na pista e fora dela.
Em 1987, uma segunda geração de pilotos apareceu. A Yamaha trouxe, via Roberts, um loiro quieto e compenetrado chamado Wayne Rainey. A Suzuki, que estava retornando ao mundial depois de cinco anos de ausência, apostou no seu grande rival, o extrovertido Kevin Schwantz.
Schwantz e Rainey eram adversários ferrenhos desde quando competiam nos EUA e isso ficou evidente para o mundo no Grande Prêmio do Japão de 1988, onde protagonizaram um duelo de arrancar os cabelos no circuito de Suzuka. Mas que foi campeão naquele ano foi Eddie Lawson, o seu terceiro título com a Yamaha da equipe de Giacomo Agostini.
O ano de 1989 foi grandes reviravoltas nas 500cc. Insatisfeito na equipe de Agostini, Lawson deixou a Yamaha para ingressar na Honda, fabricante de seu maior rival, Wayne Gardner. Paralelamente, a Yamaha trouxe de volta… Freddie Spencer, em uma inversão de camisas poucas vezes vista antes no motociclismo.
Todos esperavam que Lawson, Gardner e Spencer realizariam uma extraordinária disputa pelo título, mas não foi o que aconteceu. Gardner e Spencer estavam a voltas com muitos problemas físicos e logo saíram de cena. A briga acabou acontecendo com Rainey, do Team Roberts, que estava pilotando cada vez melhor. Mas o campeão foi mesmo Lawson, pela quarta vez!
Cumprido o desafio de vencer pela Honda, Lawson voltou para a Yamaha em 1990, agora pelo time de Roberts e… ao lado de Rainey. Mas o ‘Dream Team’ logo foi desfeito quando quando o californiano quebrou a perna em Laguna Seca, ficando de fora da temporada. Rainey, então, ficou com o caminho livre para vencer, naquele ano, o seu primeiro título mundial.
Rainey amadureceu muito rapidamente e também foi campeão 1991 e 1992, conseguindo um tricampeonato consecutivo, apesar dos constantes shows de Schwantz, Gardner e Mick Doohan, da Honda. O australiano, inclusive, esteve muito perto de seu primeiro título em 1992, mas um terrível acidente no GP da Holanda o impediu de chegar lá naquele ano.
Rainey tinha talento de sobra para ser campeão mais vezes, mas a sua carreira foi brutalmente interrompida após uma queda no GP de San Marino de 1993, em Misano, onde ficou paralítico da cintura para baixo. A liderança daquele campeonato foi assumida por Kevin Schwantz que venceu – merecidamente – o seu único título mundial, com a Suzuki.
A partir de 1994, ninguém mais conseguiu segurar o australiano Mick Doohan, que seria campeão de forma consecutiva até 1998! Pouco a pouco a presença norte-americana nas 500cc foi minguando e dando lugar a uma verdadeira invasão espanhola, cujo primeiro campeão foi Alex Crivillé, em 1999.
Mesmo assim, os EUA ainda revelaram mais algumas promessas, como John Kocinski. Campeão nas 250cc em 1990, o piloto de Little Rock, no Arkansas, era considerado o sucessor de Wayne Rainey, mas seu jeito excessivamente arrogante acabou jogando contra ele mesmo, que conquistou apenas algumas vitórias.
Os Estados Unidos voltaram brevemente ao topo com o filho de Kenny Roberts, Kenny Roberts Jr., campeão pela Suzuki em 2000. Há quem diga que o piloto tinha talento para muito mais, porém a motocicleta não foi páreo para a Honda e Yamaha na era MotoGP que se iniciava.
Depois, os Estados Unidos foram representados por Colin Edwards, o “Texas Tornado”, campeão no WorldSBK em 2001, mas que nunca chegou a vencer na MotoGP; e por Nicky Hayden, o “Kentuky Kid”, campeão pela Honda em 2006 em cima de Valentino Rossi. Esse permanece sendo o último título de um norte-americano na Categoria Rainha.
É toda essa linhagem de prestígio que a Trackhouse Racing tentará resgatar nos próximos anos, dando suporte para novos e promissores norte-americanos brilharem no Mundial. Existe um documentário sobre toda essa era clássica chamado The Unrideables. Veja a parte 2 abaixo!