A especulada saída da Suzuki da MotoGP ao término de 2022 (ainda não confirmada oficialmente) pode estar colocando um fim no quarto capítulo da fabricante japonesa no Campeonato Mundial. Uma história que começou há quase 50 anos e rendeu 7 títulos de pilotos.
A história da Suzuki no Campeonato Mundial começou em 1974. Com o crescimento econômico do Japão e a enorme ascensão das motocicletas japonesas na segunda metade do século XX, a marca com sede no Polo Industrial de Hamamatsu resolveu medir forças no categoria mais competitivo de então, de 500 centímetros cúbicos.
Para correr no certame, a Suzuki desenvolveu um modelo de motocicleta que se tornaria lendário: a RG500. Com quatro cilindros e dois tempos, o motor tinha como característica quatro virabrequins separados. Era muito rápido mas propenso a quebras, como se viu no primeiro ano.
Mesmo assim, os pilotos Jack Findlay e Barry Sheene conseguiram resultados bem decentes, finalizando o ano em quinto e sexto no campeonato. O inglês malucão até conseguiu dois pódios, segundo na França e terceiro na Áustria. A primeira vitória, no entanto, só viria no ano seguinte, 1975.
Na clássica pista de Assen, Sheene conseguiu a proeza de superar o lendário Giacomo Agostini com facilidade. Outra vitória se seguiu na Suécia. ‘Ago’ ainda conseguiu assegurar o título, enquanto o britânico se arrebentou em um acidente em Daytona. Mas estava claro que uma nova força estava surgindo.
Uma estrela chamada Sheene
A consolidação viria em 1976. Com um orçamento maior, o que permitiu dobrar o número de técnicos, a RG500 ficou ainda melhor. E Sheene correspondeu na pista, com cinco vitórias e o título mundial. Entretanto, não foi só inglês que se destacou com uma Suzuki: Marco Lucchinelli, Teuvo Länsivuori, Pat Hennen e John Newbold dominaram o top 5 evidenciando a qualidade da moto.
Sheene aumentou o domínio em 1977, vencendo nove das onze etapas daquele ano. Foi, sem dúvida, o auge técnico da Suzuki no Mundial. Mas, as coisas começariam a mudar em 1978. Nesse ano, surgiu um norte-americano que se revelaria um divisor de águas no esporte: Kenny Roberts.
Com uma Yamaha YZR500 e um estilo de pilotagem revolucionário, inspirado nas corridas de Flat Track norte-americanas, Roberts barbarizou, vencendo três mundiais seguidos. Sheene tentou impedir, mas acabou ficando frustrado com a lentidão no desenvolvimento da Suzuki abandonando a marca no final de 1979.
No entanto a Suzuki, mesmo sem ter a melhor moto do grid, ainda era uma competidora regular no grupo da frente e também se beneficiou da excepcional safra de pilotos norte-americanos do final dos anos 1970. Eles perderam Sheene para a Yamaha, mas descobriram o espetacular Randy Mamola.
O californiano foi vice-campeão em sua temporada de estreia, 1980, enquanto o título de 1981 ficava com Marco Lucchinelli e o de 1982 com Franco Uncini, ambos da Suzuki. Mas o desenvolvimento estava ficando caro demais para a marca, que decidiu se retirar das pistas no final de 1983.
Uma estrela chamada Schwantz
Mas as corridas de moto estavam se popularizando na segunda metade dos anos 1980 e a Suzuki quis participar. A volta aconteceu em 1987 com uma moto inteiramente nova: a RGV500, com um motor de 4 cilindros em V. Os pilotos eram o japonês Takumi Itoh e o inesquecível Kevin Schwantz, novamente da escola norte-americana.
Para garantir o orçamento, a Suzuki firmou, em 1988, um acordo com a Pepsi e, em 1990, com a Lucky Strike, patrocínios que renderam duas das mais famosas pinturas da história. O texano Schwantz além de um extraordinário piloto, era também puro carisma e se tornou uma das principais figuras do motociclismo.
Depois de chegar muito perto nos anos anteriores, Schwantz e a Suzuki finalmente conquistaram o título em 1993, depois do terrível acidente de Wayne Rainey (Yamaha) que o deixou, para sempre, preso a uma cadeira de rodas. Um acidente que impactou bastante o motociclismo da época.
Quem também pode sentir, pela primeira vez, o gosto da vitória com uma Suzuki foi o nosso Alex Barros. Companheiro de Schwantz na equipe, o brasileiro cruzou a linha de chegada em primeiro no GP da Espanha de 1993, disputado no circuito de Jarama, etapa que foi televisionada no Brasil pela TV Bandeirantes.
Schwantz resolveu pendurar o capacete no final de 1995 deixando a liderança da Suzuki para Daryl Beattie. Com duas vitórias e sete pódios, o suficiente para o vice-campeonato, o australiano não foi páreo para Mick Doohan e sua Honda NSR500, que dominariam completamente a cena nos anos seguintes.
Entre 1996 e 1998, a Suzuki viveu um período de vacas muito magras. A volta aos primeiros lugares só aconteceu em 1999 com Kenny Roberts Jr. O filho do tricampeão dos anos 1970 venceu quatro corridas naquele ano, mas não conseguiu impedir o primeiro título da Espanha conquistado por Alex Crivillé.
Mas Roberts Jr. confirmou a boa fase no ano seguinte, 2000. Com três vitórias e uma campanha muito regular, o norte-americano deu à Suzuki o sexto título mundial até aquele momento. Mas a glória durou pouco, porque a Categoria Rainha do Motociclismo estava prestes a passar por uma revolução nos anos seguintes.
Dificuldades na era MotoGP
Em 2002 os motores de dois tempos estavam condenados. O limite no desenvolvimento havia sido atingido e todos passaram a utilizar motos de 4 tempos. Era o começo da era MotoGP e, com isso, a Suzuki precisou aposentar definitivamente a RGV500, depois de 16 anos de aperfeiçoamentos.
A nova motocicleta, GSV-R, tinha um novo motor V4. No entanto, pilotos como Kenny Roberts jr., Sete Gibernau e John Hopkins não conseguiram repetir os sucessos do passado. Nessa fase, apenas uma vitória foi conquistada com Chris Vermeulen no GP da França de 2007, corrida marcada por uma forte chuva, onde todos os favoritos tiveram problemas.
Ainda assim a Suzuki patrocinada pela “Rizla+”, uma empresa que fabrica papel de seda para cigarros, ainda era uma das equipes mais populares da MotoGP, quando a diretoria decidiu, mais uma vez, se retirar do campeonato no final de 2011 como consequência da crise financeira mundial de 2008.
Volta completamente reestruturada em 2015
Mas competir com suas rivais japonesas definitivamente está no sangue da Suzuki. Com uma equipe inteiramente nova liderada por Davide Brivio (ex-Yamaha) e uma moto completamente diferente das anteriores (a GSX-RR de 4 cilindros em linha), eles voltaram à MotoGP em 2015.
A Suzuki também decidiu, desde o início, apostar em pilotos jovens. Aleix Espargaró e Maverick Viñales integram a equipe no reinício, com o espanhol conquistando a primeira vitória no GP da Inglaterra de 2016. Depois, Andrea Iannone passou pelo time conseguindo alguns pódios. A dupla atual, Alex Rins e Joan Mir foi introduzida entre 2018.
A recompensa pelo trabalho bem feito aconteceu em 2020, o ano do coronavírus. Em uma temporada bem diferente, praticamente toda realizada na Europa e com diversas rodadas duplas, Joan Mir chegou ao título com apenas uma vitória, mas em uma campanha extremamente regular.
Desde então muita coisa mudou. Brivio partiu para a Formula 1 deixando a Suzuki sem liderança até fevereiro desse ano com a chegada de Livio Suppo. O dinheiro ficou mais curto para todos e há uma guerra ameaçadora sendo travada em solo europeu. Motivos mais do que suficientes para a austera fabricante japonesa colocar mais um ponto final nesse capítulo. O que vai acontecer? O tempo vai dizer.