Conheça um pouco mais sobre Shoichiro Irimajiri, engenheiro aeronáutico que trabalhou na Honda e é responsável por muitas motos hoje lendárias, da Gold Wing à CBX 1050, passando pela NR 750 à criação da própria HRC.

Japoneses são discretos. Eles não querem as luzes da fama, como a maioria dos ocidentais, de modo que é quase impossível saber exatamente quais são os homens por trás das revolucionárias invenções que saíram das pranchetas da Honda, Yamaha, Suzuki e Kawasaki.
Nascido em 1940 em Kobe no Japão, Irimajiri sonhava inicialmente em construir… aviões. Formado em engenharia aeronáutica, “Iri”, como ficou conhecido, especializou-se em dinâmica de fluidos e motores a jato, que floresciam no pós-guerra.
Só que as limitações impostas pelo ocidente ao desenvolvimento militar japonês após a Segunda Guerra Mundial significaram que não haveria muito trabalho para Irimajiri na área que sonhava. Então, após uma breve passagem pela Mitsubishi, ele ingressou na Honda em 1963.

A grande missão que Soichiro Honda lhe deu: projetar motores multicilindros que competissem (e vencessem) na Europa. Nessa mesma época, a empresa estava se atirando de cabeça no mercado ocidental. A primeira fábrica fora do Japão surgiu exatamente em 1963, na Bélgica.
Ao mesmo tempo, a Honda estava ingressando com equipes de fábrica no motociclismo e no automobilismo. Irimajiri aplicou seu conhecimento aeronáutico para criar o motor de seis cilindros da Honda RC166 e o V12 do carro de Fórmula 1 que venceu o GP do México de 1965.
Irimajiri, por sinal, parecia ter uma predileção por motores de seis cilindros. Alguns anos depois, o primeiro protótipo da Honda Gold Wing, o M1, era um seis cilindros contrapostos refrigerado a líquido, que no final foi reduzido para quatro.

“Era um ótimo motor”, resumiu Irimajiri anos depois, com a serenidade de quem sabe que fez algo certo. No final, a Honda acabou cedendo e a Gold Wing recebeu de volta o seu seis cilindros contrapostos origianais, transformando-se na lendária cruzadora de estradas que é até hoje.
Mas se a Gold Wing era seis cilindros pela suavidade, o motor da CBX 1050 era apenas a mais pura demonstração de paixão técnica. Soichiro Honda queria uma moto maior do que a CB 750F para enfrentar a Kawasaki Z1 e disse à Iri: “o motor tem que ser atraente e poderoso.”
Irimajiri enviou seus engenheiros para a Base Aérea de Hyakuri, na Força Aérea Japonesa. Lá, eles passaram dez dias gravando o som dos caças F-104 Phantom: “Ouvi pela primeira vez e fiquei impressionado. Eles recriaram o som do Phantom perfeitamente!”

Eles ligaram para o Sr. Tadashi Kume, então CEO da Honda: “Dissemos a ele que tínhamos algo que queríamos que ele ouvisse. Ele veio, ouviu e disse: ‘Vocês foram longe demais. A sensação de barulho é demais. Não podemos construir motos que soem como caças a jato.'” A moto foi lançada em 1978.
Ao mesmo tempo, a Honda queria vencer no Mundial de Motociclismo, então dominado por motores de dois tempos, com um motor de quatro tempos. Para fazer isso, eles precisariam de um seis cilindros, a essa altura proibido pela Federação Internacional de Motociclismo.
A solução de Iri? Fazer um quatro cilindros com pistões ovalados, interligados por duas bielas. No papel, o motor era apenas um V4 convencional. Na prática, o seu comportamento era de um V8! Nascia assim a Honda NR500, que depois daria origem à Honda NR de rua.

Verdade seja dita: a moto não foi um sucesso nas pistas, mas lançou as bases tecnológicas para futuros desenvolvimentos da Honda e ensinou uma lição valiosa: às vezes, a inovação faz você aprender, na prática, o que não dá certo, embora pareça correto na teoria.
Todo esse empenho para bolar soluções leves, compactas e de alto desempenho fez a Honda criar um departamento separado e exclusivo para competições. Nascia assim, em 1982, a Honda Racing Corporation (HRC), na qual Irimajiri foi o primeiro presidente.
Após um problema cardíaco, Iri deixou a Honda em 1992. Mas não se aposentou: ele passou a liderar a Sega que lançou, em 1998, o Dreamcast, o primeiro console de videogame de sexta geração. Depois, seria um dos responsáveis pelo salvamento da Nvidia, presente em muitos computadores caseiros.

Apesar da paixão pela mecânica e pela tecnologia em geral, Irimajiri também criticou a direção que a humanidade estava tomando. “Se não intervirmos rapidamente, o piloto será apenas um complemento da tecnologia mecânica” o que, de fato, acabou acontecendo.