Há exatamente 20 anos, no circuito de Shah Alam na Malásia, Valentino Rossi fazia sua estreia no Mundial de Motovelocidade, pela categoria 125cc. Enquanto isso, nas 500cc, um ilustre brasileiro chegava ao pódio.
Foi no dia 31 de março que começava a temporada 1996 do Mundial de Motovelocidade. Assim como hoje, eram três categorias que compunham o campeonato. Contudo, estávamos na metade dos anos 90 e isso significa que os motores de dois tempos ainda imperavam.
As categorias eram divididas à moda antiga, ou seja: 125cc, 250cc e 500cc. Como sempre, era na classe júnior que as estrelas do futuro se destacavam. O grid de 1996 era composto por nomes como Emilio Alzamora (hoje mentor na Honda HRC), Jorge “Aspar” Martinez (dono da equipe Aspar), o lendário Garry McCoy e Valentino Rossi.
Conhecido até então apenas por ser o filho prodígio de Graziano Rossi (piloto nos anos 70 e 80), Valentino chegava ao campeonato mundial depois de apenas dois anos competindo seriamente no motociclismo italiano e europeu. Vale lembrar que antes disso, o piloto corria também de kart, chegando a considerar seriamente uma carreira no automobilismo.
Sua chegada ao mundial se deveu por meio da Aprilia, que possuía uma grande estrutura nas 125cc e uma das melhores motos do grid. Ainda assim, sua classificação no grid de largada foi modesta: 13º lugar na quarta fila. Durante a corrida, o italiano correu com cautela e conseguiu subir de posição até chegar ao sexto lugar, 7s3 segundos atrás do vencedor, Stefano Perugini.
A competitividade sempre foi uma marca registrada da categoria, com apenas 1s2 separando os cinco primeiros, Perugini, Haruchika Aoki, Peter Oettl (pai de Phillip, hoje piloto na Moto3), Masaki Tokudome e Emilio Alzamora.
O começo de Rossi, portanto, não indicava de imediato o piloto na qual viria a se tornar. Entretanto, o italiano começou a evoluir rapidamente. O primeiro pódio chegou no Grande Prêmio da Áustria e a primeira vitória na corrida seguinte em Brno, na República Checa, após superar Jorge Martinez.
Voltando à Shah Alam: o domingo de corridas ainda tinha emoções reservadas. A corrida mais monótona do dia acabou sendo a classe intermediária, 250cc, que viu mais um acachapante domínio de Max Biaggi, já uma estrela da categoria, com dois títulos em 1994 e 1995. Naquele momento, todos tinham certeza que o astro italiano do futuro era “Mad Max”, e não Valentino Rossi.
A mesma situação era vista nas 500cc, completamente dominada pelo sensacional Mike Doohan. Depois de lutar contra problemas físicos em decorrência de inúmeros acidentes e bater na trave algumas vezes, o australiano foi campeão com sobras em 1994 e de forma ainda mais contundente em 1995. Tudo indicava que o mesmo seria feito em 1996.
Não foi o que se viu na primeira etapa em Shah Alam. Quem pulou na ponta foi Luca Cadalora, que havia deixado a Marlboro Yamaha e agora fazia a sua estreia na equipe do renomado mecânico Erv Kanemoto, pilotando uma Honda NSR500 versão cliente.
Os tempos eram outros em 1996. Ninguém ligava que equipes satélites andassem tão ou mais rápido que os times de fábrica. Assim, Cadalora disparou na ponta com Doohan em segundo Tadayuki Okada em terceiro e Alex Barros em quarto.
Era Barros quem havia corrido na equipe de Kanemoto no ano anterior e agora estava em uma nova estrutura, liderada por Paolo Pileri, o mesmo chefe de equipe que havia dado a primeira chance a Valentino Rossi em 1992. Patriota, o brasileiro corria com as cores da bandeira nacional em sua Honda NSR500.
Okada estava com a corda toda nesse dia: em pouco tempo conseguiu ultrapassar Doohan e Cadalora antes de errar sozinho, sair da pista e jogar fora todo o trabalho feito. Com mais calma, o bicampeão australiano também superou o líder, entretanto as famosas chuvas de verão malaias deram o ar da graça interrompendo a corrida.
No reinício, as duas Honda HRC de fábrica comandavam, com Okada à frente de Doohan. Mas, japonês novamente errou sozinho e deu adeus definitivo à prova. Contudo, o australiano não teve sossego, porque logo Cadalora chegou para brigar pela vitória, trazendo Barros com ele.
Cadalora e Doohan realizaram uma belíssima disputa pela liderança até que o australiano teve um problema mecânico forçando-o a diminuir o ritmo. Com isso, o italiano venceu com tranquilidade. Barros se aproveitou da situação e pulou para o segundo lugar. O campeão ainda seria ultrapassado por Carlos Checa e Scott Russell finalizando apenas em quinto.
Duas equipes privadas chegando em primeiro e segundo? Isso soa impensável na MotoGP de 2016 completamente dominada pelos times oficiais. É uma pena que as transmissões televisivas estivessem apenas engatinhando naquela época de maior liberdade técnica e comportamental. Uma situação que o então menino Valentino Rossi começaria a mudar.