Um dos pilotos mais rápidos, carismáticos e irreverentes do Mundial de Motociclismo, Barry Sheene era um mestre em controlar uma feroz máquina de duas rodas assim como aproveitar os prazeres da vida.
Nascido em 11 de setembro de 1950 em Londres, Sheene tinha a velocidade no sangue. Era filho de Frank Sheene, um experiente piloto e preparador de motos. Aprendeu a andar de moto aos 5 anos de idade com uma minibike caseira construída por seu pai.
De início, Sheene não tinha planos de se tornar um motociclista; ele se concentrava em aprender a arte de ajustar motores de dois tempos, que eram difíceis de dominar. Às vezes, ele matava aula e participava de sessões de treinos no circuito de Brands Hatch.
Seu pai percebeu que ali estava um piloto naturalmente talentoso e Sheene participou de sua primeira corrida em 1968, aos 17 anos. Aos 20, já era campeão inglês na classe 125cc. No ano seguinte ficou em segundo no mundial. Parecia predestinado ao sucesso.
Nessa época, Sheene começou a usar um capacete com um adesivo do Pato Donald na frente para se destacar da multidão, design que seria sua marca registrada, assim como a preferência pelo número sete. Fumante desde os nove anos, ele fez um furo na queixeira de seu capacete para poder fumar um cigarro enquanto esperava no grid de largada o início da corrida!
No início dos anos 1970, Sheene era considerado um dos pilotos mais promissores. Em uma época ainda bastante amadora em termos de contratos, o britânico corria simultaneamente com vários fabricantes, embora tivesse uma clara preferência pela Suzuki. Seu bom relacionamento com os japoneses fez com que recusasse uma oferta da poderosa MV Agusta em 1974.
A Suzuki estava desenvolvendo uma moto nova, a RG500, e Sheene foi muito competitivo com ela, apesar de um gravíssimo acidente nos treinos para a Daytona 200. Com fraturas no fêmur esquerdo, braço direito, clavícula e duas costelas, o britânico precisou se ausentar por cerca de sete semanas.
O retorno aconteceu no GP da Holanda de 1975, onde surpreendeu a todos conseguindo a pole position e uma dramática vitória, após uma ultrapassagem sobre Giacomo Agostini na última curva da última volta. Ambos os competidores receberam o mesmo tempo de corrida, mas a simbólica “passagem de bastão” havia sido consumada.
A fase de ascensão foi definitivamente consolidada em 1976, quando foi facilmente campeão com cinco vitórias. Ele foi ainda mais dominante em 1977 quando faturou seis corridas e o bicampeonato, mesmo enfrentando uma equipe Yamaha de fábrica revivida, apoiando Giacomo Agostini, Johnny Cecotto e Steve Baker. Era o auge.
Com seu cabelo comprido, cara de malandro e bom de papo, Sheene virou um astro na Grã-Bretanha, uma espécie de rockstar do motociclismo. Nessa mesma época, a Fórmula 1 tinha um piloto parecido, James Hunt, e os dois rapidamente viraram melhores amigos. O estilo de vida extravagante logo virou uma marca registrada dos dois.
Mas a partir de 1978, Sheene encontraria um rival à altura: Kenny Roberts. O norte-americano ingressou no Campeonato Mundial direto na classe principal, as 500cc e, para a surpresa de todos, conquistou o título mundial em sua primeira tentativa. E não foi só isso: Roberts venceria também os dois campeonatos seguintes, emplacando um tricampeonato consecutivo!
Sheene e Roberts protagonizaram uma intensa rivalidade que você pode ler em maiores detalhes aqui. Convencido de que o adversário tinha uma motocicleta superior, o britânico deixou a Suzuki para pilotar uma Yamaha particular na temporada de 1980. No ano seguinte, 1981, ele conseguiu juntar-se ao rival na equipe de fábrica formando um verdadeiro dream team.
A consequência foi que ambos acabaram roubando pontos um do outro, permitindo que Marco Lucchinelli e Randy Mamola os superassem no campeonato. Ironicamente, ambos corriam pela Suzuki. Apenas uma vitória foi conquistada, na Suécia, que seria a sua última e também a última de um piloto britânico até Cal Crutchlow no GP da República Checa de 2016.
Mostrando que ainda estava em forma, Sheene terminou o GP da Argentina de 1982 apenas 0,670 segundos atrás de Roberts. Após uma série de pódios, ele estava na disputa pelo campeonato mundial quando sofreu, talvez, o acidente mais grave de sua carreira, durante os treinos para o Grande Prêmio da Inglaterra.
Sheene colidiu com a motocicleta de Patrick Igoa a mais de 260 km/h, quebrando ambas as pernas e um braço. Foram tantos pinos e parafusos necessários para estabilizar seus ossos que passou a ser chamado de “homem biônico”. Embora tenha voltado em 1983, pilotando uma Suzuki RG500 privada, ele nunca recuperou a antiga forma e se aposentou em 1984.
Isso não quer dizer que ele sossegou. Na segunda metade dos anos 1980, ele resolveu correr de carros, no campeonato britânico de turismo, onde se divertiu muito com um Toyota Supra, embora não sem menos acidentes. Foi morar na Austrália e seu carisma caiu como uma luva para a TV, onde virou comentarista e repórter de motociclismo e F1.
Infelizmente um câncer o levou de nós para sempre em 2003. Mas seu legado jamais será esquecido. E é com esse nome, Legado, que foi feito um filme sobre sua vida, apresentado por Ewan McGregor e Damon Hill e com comentários de Murray Walker e Valentino Rossi. Confira o trailer abaixo.