O tricampeão mundial de MotoGP Wayne Rainey concedeu uma entrevista ao site oficial da categoria e disse o que pensa sobre os pilotos e as motos da atualidade. Para o norte-americano, Marc Márquez veio para ficar, mas pede para que a eletrônica seja diminuída.
Quem tem mais de 30 anos certamente sente uma leve emoção ao ouvir o nome Wayne Rainey. O californiano foi (e ainda é) um dos maiores pilotos da MotoGP e entre 1988 e 1993 venceu três títulos seguidos e travou épicos duelos com Kevin Schwantz, Eddie Lawson e Mike Doohan.
Mais títulos podiam ter vindo se um estúpido acidente em Misano, na Itália não o deixasse confinado à uma cadeira de rodas para sempre. Mas, comprovando sua enorme força mental, Rainey não se abalou, e ainda continua muito presente no mundo das corridas, principalmente no box da Yamaha, sua segunda casa.
O tricampeão concedeu uma entrevista de duas partes ao site oficial da MotoGP, expondo sua opinião sobre diversos temas. Separamos aqui, os principais deles, começando pelo atual campeão, Marc Márquez:
O que está claro sobre o Márquez é que ele parece ter muita paixão e adora correr. Ele adora disputar e mesmo quando ganha, ou perde, adora essa luta. É mais do que apenas vencer a corrida. Mas, neste momento, o Márquez tem os melhores resultados.”
Valentino Rossi teve um ano de redenção em 2014. O italiano venceu duas etapas e ficou com o vice-campeonato, em sua primeira boa temporada desde 2010. Mas, Rainey não ficou surpreso com a melhora do o heptacampeão mundial de MotoGP.
“Não estou nada surpreso com o Valentino neste momento da carreira dele. Lembro-me de como me sentia quando tinha 22 ou 26 anos em comparação com os de 31 ou 32, ou com a idade do Valentino. Com a experiência você sabe o que é importante e o que não é. Quando se é jovem e coloca o capacete, quer ser o mais rápido em tudo. Quando fica mais velho, como um bom vinho, sabes onde tens de ser rápido, onde tens de andar mais depressa e onde não é tão importante. Creio que o Valentino compreende isso.”
Se Rossi foi bem, seu companheiro de equipe Jorge Lorenzo teve uma temporada abaixo da crítica. Entretanto Rainey acredita que o espanhol vai dar a volta por cima em 2015.
“É difícil quando você está no topo da sua profissão e depois aparece alguém novo que se torna uma grande ameaça. Em 2013 o Jorge fraturou a clavícula e mesmo assim quase ganhou o campeonato. Penso que o Jorge usou muita energia nessa época. Talvez pensasse que em 2014 seria mais fácil, mas não deu certo para ele. A realidade para o Jorge é que o Márquez está aqui para ficar. Ele é real, é popular, é corajoso e adora disputar. Mas, também sei que o Lorenzo é o mesmo tipo. Sei que ele também pode fazer isto. Acho que vamos ver um Lorenzo diferente este ano. Creio que vai estar mais consistente e a mente dele deverá estar mais preparada para a batalha. Isso vem com a idade.”
Rainey também opinou sobre Dani Pedrosa. O espanhol despontou com um futuro campeão quando estreou na MotoGP em 2006. Mas o futuro chegou e o bicampeão das 250cc não conquistou o título. Rainey o compara à Luca Cadalora.
“O Dani pode ser muito forte em algumas corridas e em outras nem tanto. Acho que o ponto fraco dele é a consistência geral no campeonato. Quando precisa terminar em segundo, termina em quarto. Ele está sendo muito comparado ao Márquez e julgo que essa é a diferença. O Pedrosa me lembra muito o Luca Cadalora. Num bom dia era imbatível. Depois era o inverso. Isso é a consistência. Quanto aos melhores, mesmo num mau dia, chegam em segundo.”
Em 2015 veremos a estréia de um jovem promissor, Jack Miller que saltou da Moto3 para a MotoGP, sem passar pela categoria intermediária, Moto2. Ao contrário da maioria, Rainey acha que o australiano vai dar conta do recado.
“É um bom espírito para o campeonato e é bom para a Austrália. É um grande talento e é interessante. Acredito que se vai acostumar à moto de forma a que não lhe seja difícil pilotar, então acredito que se dê bem. Às vezes a moto ainda é dona do piloto e neste caso ele vai estar correndo contra os melhores do mundo em motos muito potentes. Mas penso que se dará bem. O Márquez desenvolveu-se muito depressa. Mas como podemos ver, os pilotos mais jovens, os que não têm experiência, continuam a cometer erros. Acho que ele vai cometer alguns erros, mas pensará à respeito para não cometê-los novamente.”
Por fim, Rainey analisou as motos atuais da categoria. O norte-americano pensa que a eletrônica se tornou essencial para o controle dos atuais protótipos com mais de 250 cv, mas pede uma diminuição de sua influência.
“Julgo que essas motos têm de ter algum tipo de controle eletrônico nelas porque são muito fortes. Mas preferia menos. Sei que a eletrônica faz coisas impressionantes para ajudar os pilotos a obterem um melhor desempenho, mas para mim o piloto deve continuar a ter influência. Uma coisa que nunca mudará é que os melhores pilotos vão continuar a vencer e estar sempre no topo. O lado bom dessa eletrônica é que agora temos menos pilotos sendo cuspidos das motos, quedas que são sempre muito dolorosas.”
A temporada 2015 da MotoGP começará no dia 29 de março em Losail, no Catar e se encerra 17 etapas depois em Valência, na Espanha, no dia 08 de novembro.