A decisão de Marc Márquez em deixar a poderosa Honda para a humilde Gresini foi surpreendente, mas não foi a única na história. Conheça outros quatro casos em que pilotos de ponta deixaram suas zonas de conforto para trás.
Hoje, Márquez confirmou o que todo mundo já sabia: que vai correr na equipe Gresini Racing em 2024, apenas a quarta equipe satélite na hierarquia da Ducati, tudo para poder ter a disposição uma moto competitiva novamente, a GP23 que vai ser campeã esse ano.
Márquez ainda tinha um contrato válido com a Honda Racing Corporation (HRC) até o fim de 2024, onde ganharia alegados 12,5 milhões de euros por temporada. É muita grana para deixar para trás, além da zona de conforto da equipe, onde era tratado como um rei.
É sem dúvida um dos movimentos mais surpreendentes do motociclismo nos últimos anos e confirma que a insatisfação de Márquez não era mero jogo de cena. Mas não é único na história do motociclismo. De tempos em tempos acontece algo parecido. Vejamos:
Mike Hailwood, da poderosa MV Agusta para a pequena Honda (1966)
Esqueça a atual Honda Racing Corporation. Nos anos 1960, a famosa divisão esportiva ainda nem existia. A Honda era apenas uma pequena marca japonesa com planos ambiciosos. Quem dominava era a MV Agusta, que tinha os dois melhores pilotos: Giacomo Agostini e Mike Hailwood.
Mordido pela ascensão de Agostini, Hailwood decidiu deixar a MV Agusta para ingressar na Honda na temporada de 1966. Claro que havia um componente financeiro aí (os japoneses teriam lhe pago 40.000 dólares). Mas as motos tinham fama de serem verdadeiras dragas.
Naqueles tempos, os pilotos corriam em várias categorias. E Hailwood correu de Honda nas 250cc, 350cc e 500cc. Nas duas primeiras, os títulos vieram, menos na mais importante. Se tornaram lendárias as histórias do britânico sofrendo com a difícil RC181.
Barry Sheene, da Suzuki oficial para uma Yamaha privada (1980)
Em 1975, Barry Sheene desbancou Giacomo Agostini do seu posto de melhor piloto de motos do mundo. Com sua Suzuki, o carismático britânico conquistou facilmente os campeonatos de 1976 e 1977 transformando-o em um ídolo na Inglaterra, um James Hunt das duas rodas.
Mas em 1978 as coisas mudaram com a chegada de Kenny Roberts. O marrento californiano, que vinha das pistas de dirty track norte-americanas, causou um alvoroço entre os pilotos europeus conquistando facilmente o título com sua Yamaha de pneus especiais.
Sheene era um dos que acreditavam que o sucesso de Roberts vinha exclusivamente de seu equipamento superior. E, frustrado com as lentas respostas da Suzuki, tomou a surpreendente decisão de deixar a equipe oficial para pilotar uma Yamaha particular em 1980.
Eddie Lawson, diretamente para a equipe do maior rival (1989)
Para quem assistiu ao Mundial de 500cc em 1989 foi muito estranho ver Eddie Lawson nas cores branca e azul da Rothmans-Honda. Estava tudo ao contrário naquele ano porque, da mesma forma, Freddie Spencer era visto na Marlboro-Yamaha vermelha e branca…. de Lawson!
Lawson havia feito história com a Marlboro-Yamaha da equipe de Giacomo Agostini vencendo os campeonatos de 1984, 1986 e 1988. Tudo indicava que mais um ano vitorioso se seguiria em 1989, mas ele entrou em rota de colisão com o lendário chefe, 15 vezes campeão como piloto.
Ao mesmo tempo, Lawson nutria uma grande rivalidade com Wayne Gardner, cuja Honda tinha fama de difícil. Isso fazia o australiano parecer melhor como piloto. Irritado e disposto a tirar a prova, ele resolveu se juntar ao seu maior rival em 1989. E não é que foi campeão novamente?
Valentino Rossi, da campeã Honda para a claudicante Yamaha (2004)
Muitos podem estar comparando a decisão de Márquez com a de Rossi, que trocou a Honda pela Yamaha. Mas há uma diferença fundamental aí: enquanto Márquez deixa, por baixo, uma moto claramente com problemas para pegar a campeã de 2023, Rossi fez o contrário: abdicou da máquina campeã de 2003 pela total incógnita que era a Yamaha em 2004.
Ao deixar a Honda, Rossi vinha de três títulos seguidos. Estava no auge. Até hoje não se sabe exatamente por que ele abriu mão desse conforto para abraçar o desconhecido, mas a teoria mais aceita é a de que marca não gostava muito de suas estripulias após as vitórias. E o consenso geral era de que a imbatível RC211V era a grande responsável por todas essas corridas vencidas e não o piloto.
Rossi queria mostrar o seu valor como piloto e estar em uma equipe que fosse uma extensão de sua personalidade. O problema é que, na época, a Honda era disparado a melhor do grid. Já a Yamaha tinha problemas, não havia vencido sequer uma corrida em 2003. Arriscado, não? Mas o final foi dos mais felizes.