Conheça a história do Troféu Turista da Ilha de Man, corrida anual onde motociclistas do mundo inteiro desafiam a morte em um percurso de 60 quilômetros pelas estradas desse pequeno arquipélago britânico.
Realizada desde 1907, o Troféu Turista na Ilha de Man é uma das provas mais antigas do planeta ainda em atividade. Por muitos anos, o formato adotado foi o “Time Trial”, ou seja, com os competidores disputando contra o relógio. Entre 1954 e 1959, no entanto, as corridas tiveram largadas convencionais, abandonadas devido aos massivos acidentes que aconteciam.
Atualmente o método utilizado é o chamado “Clutch Start”, com os competidores disputando diretamente, mas largando em intervalos de 10 segundos, conforme os tempos obtidos nos treinos de classificação. Isso permitiu melhorar o nível de segurança mantendo a emoção.
A pista, chamada de “Snaefell Mountain Course”, na verdade trata-se das mesmas ruas e estradas comuns que percorrem a ilha, sem nenhum trato especial para a segurança. Quer dizer, os competidores aceleram em frente às casas dos moradores lidando com guias, postes, arbustos, tampas de bueiro, desníveis, lombadas e tudo o mais que se possa imaginar.
Há também outra parte montanhosa, onde os pilotos ganham o campo. Nesse trecho, recheado de retas e curvas de raio extremamente longo, velocidades altíssimas acima dos 350 Km/h são facilmente atingidas. 256 curvas compõem todo o percurso.
Por muitas décadas, o Troféu Turista da Ilha de Man foi a corrida de motocicletas mais prestigiada do mundo. Fazia parte do Campeonato Mundial de Motociclismo, como a etapa britânica do calendário até 1976, mas foi retirada por razões de segurança perdendo o apoio da FIM. Hoje é um evento promovido pelo departamento de turismo da Ilha.
Vale lembrar que outras corridas realizadas em circuitos de estrada entraram em declínio na mesma época. Em 1976, a Fórmula 1 também realizou sua última corrida no colossal circuito de Nürburgring Nordschleife. A Targa Fiorio, realizada nas estradas italianas, também acabou em 1977.
Mesmo acontecendo de forma independente, o Troféu Turista da Ilha de Man continua a crescer e a penetrar no imaginário do público justamente pela bravura necessária. Mais de 240 pilotos já perderam a vida entre treinos e corridas. A edição mais sangrenta foi a de 1970: nada menos do que seis mortes.
O maior vencedor da prova é Joey Dunlop. o norte irlandês somou impressionantes 26 vitórias em 78 participações por diferentes categorias. Curiosamente, o maior nome do Troféu Turista não perderia a vida durante essa corrida e sim em uma prova em Tallinn, na Estônia, no ano 2000.
A família Dunlop é toda voltada esse tipo de corrida. O irmão de Joey, Robert também foi um competidor de sucesso na Ilha de Man, com cinco vitórias até encontrar a morte na North West 200 de 2008. O mesmo aconteceu com seu filho William na Skerries 100 em 2016. Hoje, apenas o seu irmão Michael (sobrinho de Joey) permanece vivo – e competindo.
Outros grandes nomes são: John McGuinness com 20 vitórias e ainda em atividade, Mike Hailwood com 14 vitórias em 34 participações; Steve Hislop com 11 vitórias em 26 participações; Giacomo Agostini com 10 vitórias em 16 participações; Phill Read com 8 vitórias em 33 participações e John Surtees com 6 vitórias em 11 participações.
Aos 51 anos, John McGuinness pode estar realizando em 2023 o seu último TT. O britânico se recuperava de uma lesão quando a pandemia de coronavírus impediu o evento em 2020 e 2021. Mesmo assim, o piloto da Honda continua veloz como sempre, ocupando as primeiras posições.
E o Troféu Turista na Ilha de Man tem outros especialistas, como Conor Cummins, o icônico Ian Hutchinson, Lee Johnston, Dean Harrison, e muitos outros. Entre os mais novos, os destaques ficam por conta de Peter Hickman e Davey Todd. Anote esse nome.
A última semana de maio já é movimentada, graças aos treinos livres e classificatórios que definem a ordem de largada das categorias, que são por ordem de importância: Senior TT, Superbike, Superstock, Supersport, Lightweight e TT Sidecar, uma das mais divertidas e perigosas.
Os treinos começaram no último domingo (28) e duram até a sexta-feira (2). A corridas começam no sábado (3) e vão até a próxima sexta-feira (9). Mas a programação é constantemente modificada devido aos acidentes e ao clima instável que afeta a ilha em questão de minutos.
Ao contrário do que poderia se esperar, as estradas não fecham. Isso acontece apenas após as 18h00 locais, já que o sol se põe apenas as 23h00 nessa época do ano. Trata-se de uma época extremamente lucrativa para a ilha, com um massivo fluxo de turistas de todas as partes do mundo para curtir a corrida – e as atrações da região, que é simplesmente mágica.
E, antes que você se pergunte, não há transmissão televisiva, não nos moldes que conhecemos. De concreto mesmo, você pode acompanhar a prova através da rádio local e por pequenos vídeos que os organizadores vão soltando nas redes sociais durante o evento.