Quantos cilindros você precisa para se satisfazer em uma motocicleta? Quantos definem uma moto grande ou pequena, esportiva ou urbana? Vamos nos aprofundar em uma das maiores discussões em duas rodas.
No Brasil, o número de cilindros, principalmente a partir de motos médias e grandes, tem relevância na hora da escolha. Boa parte da discussão é sobre o ronco distinto que cada configuração emite. Os motores mono e bicilíndricos, com seu som compassado, viraram sinônimo pequeno deslocamento, embora na prática não seja bem assim.
Já os motores tri e tetracilíndricos emitem um ruído agudo que “canta” em altos giros sendo por isso associados à esportividade e às pistas de corrida. E acredite, o consumidor se preocupa muito com isso. Mas nem sempre roncão significa moto melhor. Cada motor é adequado ao que o modelo se propõe.
Motores monocilíndricos
Os propulsores de um cilindro são os mais simples e baratos de construir devido à sua própria natureza. Por isso mesmo a grande maioria costuma ser OHC (comando simples no cabeçote) e o único pistão se encarrega sozinho dos quatro tempos da combustão interna: admissão, compressão, combustão e exaustão.
Graças à essa característica, é leve e sua menor complexidade de funcionamento gera um alto torque relativo ao peso do conjunto. Uau, como assim? Simplificando, o monocilíndrico é o que oferece mais força em baixas velocidades.
É por isso que no motocross, onde o que conta é torque e baixo peso, só se utiliza essa configuração. Mas também há motores monocilíndricos de porte maior, de 250cc, 400cc ou mais, como na finada Yamaha XT660R. O problema são as vibrações intensas.
Vantagens
- São estreitos
- Fáceis e baratos de produzir
- Torque abundante, mesmo em pequenos deslocamentos
Desvantagens
- Vibrações intensas acima de 250cc
- Pouco fôlego em altos giros
Motores bicilíndricos
A configuração com dois cilindros foi concebida para entregar ao piloto mais força em altos giros sem comprometer a leveza e a agilidade nas rotações mais baixas. É por isso que essa arquitetura é a preferida em motos médias que se propõem a circular pela cidade na maior parte do tempo, mas não dispensam uma estradinha.
Há dois tipos de motores bicilíndricos: em linha ou em V. Os primeiros têm um baixo custo de produção e manutenção, sendo a configuração preferida das street e roadsters urbanas. Eles vibram bastante, mas os mais recentes conseguem reduzir bastante o incômodo graças a balanceadores no virabrequim e coxins especiais.
Os motores em V geralmente são associados às motos custom graças à sua comprovada durabilidade. Dispostos horizontalmente, os cilindros permitem que a motocicleta fique bem estreita. Há também motos com propulsores transversais como as Moto Guzzi, mas a maior largura (e calor emanado) faz com que não sejam exatamente populares.
Vantagens
- Baixo custo de produção
- Gira bem mais que um monocilíndrico
- Manutenção tranquila
- Torque abundante principalmente em baixas e médias rotações
Desvantagens
- Ronco não agrada a todos
- Vibrações podem ser intensas
Motores tricilíndricos
Ainda incomuns, os motores de três cilindros ficaram por anos esquecidos, mas foram resgatados pela inglesa Triumph, se tornando uma de suas marcas registradas. Hoje você os encontra também nas Yamaha MT-09 e Tracer 9, além de algumas Benelli.
Eles conseguem reunir o melhor de dois mundos: o torque abundante de um mono e bicilíndrico, sem abrir mão do grande fôlego de um tetracilíndrico, mantendo-se mais estreitos e mais leves pois, com um cilindro a menos, têm menos peças.
Além de todas essas vantagens práticas, os tricilíndricos roncam bonito, estão mais próximos de um tetra do que de um bi nesse sentido. É um ronco mais aveludado, que abre bem em altos giros, ficando bem próximo do que seria um V6.
Vantagens
- Bom torque em baixos, médios e altos regimes
- Mais estreito que um tetracilíndrico
- Mais leve que um tetracilíndrico
- Ronco bonito
Desvantagens
- Já são complexos demais para motos pequenas
- Mais caros de produzir e manter
- Não giram tão alto quanto um tetra
Motores tetracilíndricos
Os motores com quatro cilindros e seu ronco fino e agudo são via de regra em todas as motocicletas esportivas, graças ao seu grande fôlego em altas rotações, tanto que a maioria com essa arquitetura passa facilmente dos 15.000 rpm. A partir daí, é bom se segurar no guidão, pois se enfurece para valer.
Eles podem ser em linha (como na Yamaha R1, Honda CBR1000RR-R e Suzuki GSX-R1000) ou em V (como na Ducati Panigale V4 e Aprilia RSV4). Os primeiros são mais largos e de funcionamento mais suave. Os do segundo grupo comportam-se em geral como um bicilíndrico duplicado. Mas nem tudo são flores.
Quatro cilindros exigem uma maior complexidade de funcionamento, pois precisam de mais válvulas, mais pistões e mais óleo. Geralmente, a elevada inércia faz com que o motor se torne preguiçoso em baixas rotações, o que vem sendo amenizado com os sistemas variáveis de válvulas.
Vantagens
- Grande torque em altos giros
- Possibilidades quase infinitas de extração de potência
- Ronco estimulante
Desvantagens
- São mais largos e pesados do que um mono e bicilíndrico
- Mais preguiçosos em baixos regimes de rotações
- Mais custosos de produzir e manter
E acima disso?
Motores maiores do que quatro cilindros existem e até já estiveram em produção, principalmente na década de 1970. Foi a era de ouro dos seis cilindros em linha onde se podia optar por Benelli Sei, Kawasaki KZ 1300 ou Honda CBX 1050.
Apesar do ronco espetacular, eram largos e pesados demais. O calor que emanavam para as pernas também tornava o uso diário sofrível. Por isso a configuração não emplacou, só ainda sendo utilizada na emblemática Honda Goldwing, uma cruiser que é praticamente um carro em duas rodas.
Ainda houve propostas ainda mais loucas como é o caso da nossa Amazonas, uma moto com motor do Fusca 1600! Nos anos 1980, ela chegou a ser considerada a maior motocicleta do mundo. Para tanto, utilizava-se de um câmbio de carro e tinha manobrabilidade de caminhão.
Projetos experimentais como a Millyard V10 (motor de Dodge Viper) e até o recente experimento com o motor V8 da Ferrari F355 são ótimos exercícios de imaginação. Mas nenhum deles é viável no mundo real, porque anulam a grande vantagem de uma motocicleta: a sua agilidade apaixonante.