Jorge Lorenzo anunciou hoje (14) que irá se aposentar como piloto profissional após o Grande Prêmio de Valência, que será realizado nesse domingo (17). O espanhol de apenas 32 anos compete na MotoGP desde 2008 e vem sofrendo com lesões nos últimos anos.
Lorenzo, que tem um contrato válido com a Honda até o final de 2020, convocou uma inesperada entrevista coletiva, onde até Carmelo Ezpeleta, chefe da Dorna, a entidade que promove e regulamenta a MotoGP estaria presente. Desde então, a expectativa era de um anuncio de aposentadoria.
“Olá a todos, muito obrigado por aceitarem este convite que me deixa orgulhoso e feliz. Significa muito para mim que vocês possam vir, sempre acreditei que há dias importantes na vida de um piloto. O primeiro é quando você estreia no Mundial, quando você vence sua primeira corrida, quando você vence o seu primeiro campeonato, o que nem todos conseguem, mas eu e muitos de nós conseguimos, e então quando você anuncia sua retirada. Como vocês podem imaginar, esse dia chegou para mim, estou aqui para anunciar que esta será a minha última corrida na MotoGP. Depois desta corrida, retiro-me como piloto profissional“, disse Lorenzo em frente aos jornalistas em Valência.
“Eu tinha 3 anos quando tudo começou. Quase 30 anos de dedicação completa a esse esporte, meu esporte. Os que trabalharam comigo sabem o quanto sou perfeccionista, quanto trabalho duro e intensidade coloco nisso. Sendo assim, requer um alto nível de motivação automática, por isso, depois de nove anos inesquecíveis na Yamaha, sem dúvida a mais gloriosa da minha carreira, senti que precisava de uma mudança se quisesse manter esse alto compromisso com o meu esporte“, continuou Lorenzo. “Mudar para a Ducati me deu o grande impulso que eu precisava e, embora os resultados fossem ruins, usei essa motivação extra como combustível para não desistir e finalmente vencer aquela corrida especial em Mugello, na frente de todos os fãs da Ducati. Depois disso, quando assinei com a Honda, tive uma sensação semelhante, alcançando um dos sonhos de todos os pilotos: me tornar um piloto oficial da fábrica da HRC”.
A revelação não chega a ser uma surpresa completa. Desde que ingressou na Honda, no início desse ano, Lorenzo não conseguiu acompanhar o ritmo de seu companheiro de equipe Marc Márquez, que já soma nada menos do que 395 pontos e o título de campeão, enquanto que Lorenzo é apenas o 19º na classificação com 25.
Além disso, Lorenzo ainda se recupera de graves lesões. A primeira aconteceu em seu pé, durante os treinos para o Grande Prêmio da Tailândia do ano passado, quando ainda estava na Ducati. Mais uma lesão no pulso aconteceu em treinos particulares na pré-temporada e a mais grave delas no GP da Holanda desse ano, no circuito de Assen.
Nessa ocasião, Lorenzo fraturou duas vértebras da coluna cervical, o que demandou uma complicada cirurgia e a perda de 2 cm de altura, além da ausência de três corridas. Quando voltou, estava completamente fora de ritmo a ponto de chegar em último no Grande Prêmio da Austrália.
“Infelizmente, as lesões logo tiveram um papel importante na minha temporada, não conseguindo rodar em condições físicas normais. Isso, além de uma motocicleta que nunca pareceu natural para mim, tornou minhas corridas muito difíceis. De qualquer forma, nunca perdi a paciência e continuei lutando, apenas pensando que era uma simples questão de tempo e que, depois de tudo, as coisas chegariam ao lugar certo“, admite Lorenzo.
“Mas, quando comecei a ver alguma luz, tive um acidente ruim no teste de Montmelo e, algumas semanas depois, o feio em Assen. Naquele momento, eu devo admitir que, quando parei de rolar no cascalho, o primeiro pensamento que me veio à mente foi ‘o que diabos estou fazendo aqui? Isso realmente vale a pena? Não posso mais com isso’. Alguns dias depois, depois de refletir muito sobre minha vida e carreira, decidi tentar novamente. Eu queria ter certeza de que não estava tomando uma decisão antecipada“, revela.
“A verdade é que, naquele acidente, a colina ficou alta demais para mim e, mesmo se eu tentasse, não conseguia encontrar motivação e paciência para continuar subindo“, resignou-se. “Sabe, eu amo esse esporte, adoro andar de moto, mas acima de tudo, adoro vencer. Entendi que, se não sou capaz de lutar por algo grande, lutar pelo título ou pelo menos lutar por vitórias, não consigo encontrar a motivação para continuar, especialmente nesta fase da minha carreira“, reconhece. “Percebi que meu objetivo com a Honda, pelo menos em pouco tempo, não era realista. Devo dizer que sinto muito pela Honda, especialmente por Alberto [Puig], que realmente confiou em mim e me deu essa oportunidade“.
Nascido em Palma de Maiorca, Jorge Lorenzo ingressou no Campeonato Mundial em 2002, nas 125cc. O espanhol começou a chamar atenção ainda nas 250cc, onde se sagrou bicampeão (2006-2007) com a Aprilia. No ano seguinte, chegou à MotoGP pela Yamaha, onde foi campeão em 2010, 2012 e 2015, fase marcada por uma intensa rivalidade com Valentino Rossi.
Entre 2017 e 2018, Lorenzo correu pela Ducati onde conquistou outras três vitórias. O espanhol, no entanto, preferiu mudar novamente de equipe para 2019, ingressando na poderosa Honda ao lado de Marc Márquez. Sua melhor posição de chegada esse ano foi um 11º no GP da França, a 15 segundos de seu companheiro de equipe.
A saída de Lorenzo abre uma importantíssima vaga, a equipe mais forte da MotoGP. Os principais candidatos para ocupar o lugar do espanhol são Cal Crutchlow e Takaaki Nakagami, ambos da equipe satélite LCR. Também tem grandes chances Johann Zarco, que está correndo momentaneamente no lugar do japonês e Álex Márquez, campeão da Moto2.