Quais, afinal, foram os dez maiores destaques da MotoGP em 2016? Nessa lista você confere as impressões do editor Lucas Carioli, que acompanhou a temporada inteira.
10 – Jack Miller
Embora tenha passado longe de fazer uma temporada brilhante, o ano foi de estabelecimento para Jack Miller. Depois de pular diretamente da Moto3 para a MotoGP em 2015 – um passo que se revelou maior que a perna – parecia que o australiano sairia da categoria rainha pela porta dos fundos e em pouco tempo.
Mas a mudança da LCR-Honda para a Marc VDS foi o ponto de virada. Se sentindo mais em casa em uma equipe tão novata quanto ele na MotoGP, Miller ficou mais a vontade para correr, superando quasee sempre seu companheiro de equipe, o prestigiado campeão da Moto2, Esteve ‘Tito’ Rabat.
A já antológica vitória debaixo de chuva em Assen foi circunstancial, é claro, mas para quem prestou atenção, Miller deu mostras de uma velocidade crua em várias ocasiões, principalmente em piso molhado. E a personalidade incomum já garantiu seu lugar no grid. Se for bem lapidado, é um piloto com enorme potencial.
09 – Dani Pedrosa
Precisamos ser honestos aqui: Dani Pedrosa já não rende mais o suficiente para pilotar a moto que tem e a equipe que possui. Apenas uma vitória e 155 pontos (pouco mais que a metade de Marc Márquez, que marcou 298) deixam claro isso.
Mas também precisamos ser justos: faz tempo que Pedrosa não corre na mais perfeita forma física. O espanhol vem de uma incrível sequência de lesões, que já o deixaram mais remendado do que uma boneca de pano. A mais séria delas para a retirada da fáscia e resolver um intermitente problema de Sindrome Compartimental, no ano passado.
É por esse impressionante esforço físico que Pedrosa está na lista. O seu ritmo feroz no GP de Misano, quando tudo (finalmente) correu a seu favor mostrou novamente porque o espanhol foi tricampeão, nas 125 e 250cc. Pena que em Motegi sofreu (outra) lesão.
08 – Andrea Iannone
Iannone fez e aconteceu em 2016. Dono de um estilo de pilotagem agressivo e uma adorável ausência de prudência, o italiano animou a maioria das corridas da temporada, caindo em boa parte delas. Isso quando não levava alguém junto. Quem vai se esquecer das trombadas em Andrea Dovizioso e Jorge Lorenzo?
Mas também esperava-se um pouco mais de Iannone, pois esteve perto de vencer em várias ocasiões, antes de por tudo a perder. Isso se traduziu em apenas uma vitória na Áustria, a primeira da Ducati em sua nova era. Agora, vai precisar pilotar com mais calma, pois será o líder da Suzuki, uma responsabilidade maior do que vinha tendo.
07 – Andrea Dovizioso
O mesmo pode ser dito sobre o seu xará, Andrea Dovizioso, só que ao contrário. Uma certa falta de agressividade foi sentida em diversas provas do ano, deixando-nos com a impressão de que a Ducati GP16 poderia vencer mais corridas com um piloto mais decidido. Um Casey Stoner, digamos.
De qualquer maneira, Dovizioso realizou uma bela temporada. Sua vitória na Malásia foi “puro Dovi”: aguardando pacientemente as condições ficarem ao seu favor para atacar com precisão. É por causa dessas qualidades que foi o escolhido para permanecer na Ducati ao lado de Jorge Lorenzo em 2017.
06 – Hector Barberá
Há alguma coisa muito especial na Ducati GP14 que nem os engenheiros de Borgo Panigale sabem explicar. Todo piloto que utiliza a motocicleta se adapta bem e o modelo caiu com uma luva para o tempestuoso Hector Barberá, que a pilotou na pequena equipe Avintia.
Barberá renasceu em 2016, frequentemente andando entre os dez primeiros com uma moto com dois anos de defasagem. Às vezes na frente até da Ducati oficial! Por isso foi convidado a substituir Andrea Iannone nas etapas que ficou de fora. Ironicamente, com a GP16, voltou a ser o Barberá de sempre.
05 – Jorge Lorenzo
2016 foi o pior ano de Jorge Lorenzo na MotoGP em termos de desempenho. Embora suas quatro vitórias e o terceiro lugar na classificação não reflitam isso, o espanhol foi muito fraco em diversas etapas, principalmente as com chuva. Em Sachsenring, por exemplo, chegou simplesmente em último entre aqueles que completaram a prova.
O espanhol explica que a deficiência vinha de uma completa falta de confiança nos pneus de chuva da Michelin. No mais, quando a pista estava seca e utilizava os compostos certos, foi o Lorenzo de sempre: fulminantemente veloz. Na Ducati, no entanto, precisará fazer mais do que isso, porque é o piloto quem precisa se adaptar à Desmosedici e não o contrário.
04 – Cal Crutchlow
O ano também foi de redenção para Cal Crutchlow. O britânico, que já estava caindo no esquecimento chegou até a anunciar uma precoce aposentadoria nas primeiras provas, antes de uma sensacional virada de resultados na segunda metade da temporada o convencer do contrário.
Foram duas vitórias antológicas: a primeira, em Brno, que tirou a Inglaterra de uma seca que já durava 35 anos. A segunda, em Phillip Island veio na sorte, graças ao erro de Marc Márquez. Mas Crutchlow vinha sendo o único piloto a conseguir desafiá-lo naquele final de semana. Que mantenha o ritmo em 2017, a MotoGP fica muito melhor com ele na frente.
03 – Valentino Rossi
Valentino Rossi teve um ano de altos e baixos. O italiano percebeu que perdeu o título de 2015 ao ficar dependente das combinações dos resultados de seus oponentes, Jorge Lorenzo e Marc Márquez. Por isso, em 2016 o Doutor enfiou uma coisa na cabeça: ser mais rápido, a qualquer preço!
Isso ele conseguiu, já que conquistou três pole positions, e várias primeiras filas. Mas se foi mais rápido, também cometeu mais erros. Um deles em Austin. O outro em Assen, quando tinha a corrida praticamente ganha. Sem falar na insistência em permanecer na pista em Sachsenring, quando sua equipe implorava chamando-o aos boxes.
Isso, aliado a outros azares (como o motor estourado em Mugello) fizeram com que ficasse muito para trás no campeonato. A velocidade e a ferocidade, no entanto, continuam as mesmas de sempre. Quem sabe a hora do décimo título não chega em 2017?
02 – Maverick Viñales
Se tem um piloto que se apresentou para o mundo em 2016 esse foi Maverick Viñales. Com uma Suzuki GSX-RR cada vez mais acertada, o espanhol brilhou em várias etapas, até conseguir uma incrível vitória em Silverstone, a primeira da marca em nove anos. E sem cometer nenhum erro!
Toda essa velocidade e maturidade lhe rendeu um grande presente: a cobiçada vaga de Lorenzo na Yamaha. Mas, se terá uma moto melhor, também será mais cobrado e é nesse momento de pressão onde os homens se separam dos meninos. É o que começaremos a observar a partir do ano que vem.
01 – Marc Márquez
Marc Márquez não irá esquecer o seu ano de 2016. Tenho certeza de que ele também considera esse terceiro título o mais importante de sua carreira até aqui. Os dois primeiros (2013 e 2014) podem ser considerados “fáceis” depois do turbilhão de emoções que o espanhol viveu nos últimos doze meses.
Após o polêmico final da temporada 2015, onde chocou-se com Valentino Rossi na Malásia e não ofereceu resistência ao título de Jorge Lorenzo em Valência, Márquez era um piloto acuado e sobre enorme pressão dos torcedores e da imprensa. Para completar, os primeiros testes mostravam que a Honda de 2016 estava longe de ser perfeita.
Márquez optou por mergulhar de cabeça no trabalho cercando-se apenas da sua equipe, praticamente uma segunda família para o espanhol. Juntos, eles trabalharam para deixar a RC213V mais maleável e seu psicológico mais estável. O resultado foram cinco vitórias e o mais importante: apenas duas etapas fora da zona de pontuação.
O que isso significa? Que provavelmente Márquez encontrou a chave definitiva da vitória, que é o equilíbrio entre ser veloz, inteligente e controlado. Isso é uma má notícia para seus rivais, pois vai ficar ainda mais difícil de vencê-lo daqui para a frente.
Foto de Capa | Toni Goldsmith