O que aconteceu no fim de semana do GP da Itália, no circuito de Mugello, foi muito além das atividades em pista. Uma intensa movimentação de bastidores estava em curso e acabou levando Marc Márquez para a Ducati e Jorge Martin para a Aprilia.
Nas últimas semanas, a cúpula da Ducati estava dividida: quem contratar para 2025? Marc Márquez ou Jorge Martin? O primeiro evoluía a olhos vistos com a Desmosedici. Por outro lado, o segundo era inegavelmente rápido e lidera o atual campeonato.
Após o Grande Prêmio da Catalunha, a Ducati acreditava que podia ficar com os dois. Martin fazia questão da equipe de fábrica, mas Márquez não: “Tanto faz a cor da moto, só quero ter a última evolução da motocicleta”, dizia na época.
Qual era o plano? Levar Martin para a equipe oficial, como tanto sonhara, e colocar Márquez na equipe satélite Pramac, que dispõe do mesmo maquinário dos vermelhos. Mas as coisas tomaram um novo rumo na quinta-feira passada (30) durante a conferência de imprensa do GP da Itália.
Márquez surpreendentemente disse que ir para a Pramac não estava nos seus planos: “não vou passar de uma equipe cliente a outra. É uma equipe de fábrica ou ficar onde estou”, revelou. Com um adendo: “Tenho três propostas na mesa e vou decidir até julho.”
Isso deixou a Ducati em pânico. Havia, portanto, a possibilidade de perder Márquez para outra fabricante. Qual? Só poderia ser a Aprilia, algo que já havia sido avisado há algumas semanas. A KTM já havia confirmado a ida de Pedro Acosta para o lugar de Jack Miller no sábado (1ª).
Na segunda-feira (3), as equipes permaneceram em Mugello para uma sessão de testes coletivos que foi atrapalhada pela chuva. Portanto todos tiveram tempo para ver Jorge Martin entrar com roupas casuais (sem patrocinadores) no motorhome da Aprilia.
“Assinei o contrato segunda de manhã às 08h00. Dois anos, a moto que vence. Neste momento não há outra mais rápida”, disse Márquez. “Desde o primeiro momento a Ducati nos disse que iriam esperar Mugello para tomar a decisão, que estavam indecisos porque tinha dois pilotos. Eles iriam se guiar pelos resultados e por tudo em geral, porque tudo pesa em qualquer esporte e me disseram isso no domingo à noite.”
O diretor técnico da Ducati, Gigi Dall’Igna deu o lado da empresa nessa história: “No sábado à tarde tomamos uma espécie de decisão embrionária, e finalizamos no dia seguinte. Depois da corrida de domingo tivemos pouco tempo para finalizar os detalhes de um contrato tão importante como o do Marc e é por isso que não fizemos o anúncio imediatamente.”
“Fomos movidos pela consciência que adquirimos nos últimos meses de que ele pode realmente fazer a diferença na nossa moto. A nossa moto atingiu níveis incríveis e ter dois pilotos desse nível nos dá mais possibilidades de vencer o campeonato mundial, que é o nosso principal objetivo”, explicou. “Como disse uma vez Max Biaggi, correr não é um concerto de música clássica, tudo pode acontecer e ter dois pilotos capazes de lutar pelo título é o melhor para a Ducati.”
No lado de Martin, os seus representantes perceberam essa movimentação e bateram novamente na porta do departamento de corridas da Ducati. Mas ninguém abriu mais a porta. Gigi Dall’Igna e Marc Márquez já haviam entrado em acordo. Para aliviar a dor o mais rápido possível, um contrato pronto para ser assinado chegou ao espanhol poucas horas depois da primeira conversa concreta.
Após o anúncio, o diretor da equipe Aprilia, Massimo Rivola, não esconde o fato deles só terem conseguido garantir o espanhol porque este foi rejeitado pela Ducati. Mas para a marca de Noale, a única coisa que conta é ter acesso a um piloto de primeira classe.
Mas por que Márquez subitamente fez questão de estar na equipe oficial? Foi mesmo uma oferta da Aprilia? Rivola não disse nada sobre isso. De acordo com a imprensa alemã, o seu consultor bancário também o aconselhou a dar esse passo.
Quando Márquez abdicou de um salário estimado em 15 milhões de euros com a Honda em 2024, foi devido a uma situação excepcional. Correr na Gresini por mais um ano a um preço especial não poderia ser considerado para o piloto considerado a maior estrela da MotoGP atual. E o fato dele não estar de boné na única foto do comunicado de imprensa mostra as dimensões desse acordo.