Motivo de orgulho de dez entre dez motociclistas, os garfos invertidos tem fama de serem mais esportivos e melhores do que os convencionais. Mas será que é assim mesmo? Descubra aqui.
Suspensões fazem um trabalho difícil. Além de nivelar a altura das motos em relação ao solo, elas também controlam o torque do motor, as forças de frenagem e eventualmente compensam os erros de pilotagem que todos os motociclistas fazem.
Mais de 100 anos de evoluções fizeram a suspensão chegar ao formato atual: dois tubos do tipo macho e fêmea conectados às rodas dianteiras contendo os componentes de amortecimento internamente. A mola absorve e libera energia recebida, enquanto o amortecedor e o óleo controlam a rapidez com que isso é feito. Esse sistema é comumente chamado de garfo telescópico.
No garfo telescópico convencional, os tubos cromados internos (chamados de pilares) estão dispostos na parte superior fixados em mesas superiores e inferiores (árvore tripla ou garra tripla) das motocicletas. Na parte inferior estão os tubos mais largos (também conhecidos como sliders) e que são fixados na roda dianteira.
A principal vantagem é a sua construção simples e fabricação barata. Como os tubos mais finos estão em cima, o ângulo de direção pode ser mais acentuado, o que é uma vantagem nos centros urbanos. Além disso, eles costumam ser mais leves e tem uma aparência limpa e satisfatória.
Satisfatório também é o seu desempenho geral podendo ser utilizado em uma ampla variedade de motocicletas, desde um pequeno scooter, uma pesada custom ou uma superbike, tanto nas ruas como nas pistas. Basta apenas garantir o modelo de diâmetro correto e densidade adequada para a proposta.
Vantagens
- Tempo de desenvolvimento maior
- Desempenho satisfatório em todas as condições
- Produção simples e barata
- Mais leves
- Manutenção básica
Desvantagens
- Já atingiram o pico de desenvolvimento
- Torce mais no limite
- Menos sensíveis
Garfos invertidos
E foi nas pistas de corrida – onde as forças são levadas a extremos – em que se descobriu, nos anos 1980, que inverter os garfos de cabeça para baixo melhorava a dirigibilidade das motocicletas. Mas por quê? A resposta está no próprio visual desse tipo de suspensão.
Em uso, os garfos telescópicos estão sujeitos a forças físicas que tentam dobrar os tubos. Agarre o freio dianteiro com força e a roda dianteira em desaceleração tentará puxar os tubos do garfo para dentro em direção ao resto da moto.
Colocar tubos cromados na parte de baixo e os sliders – a parte mais grossa – na parte de cima, significa que os garfos ficam mais capazes de resistir a essas forças de flexão do que os telescópicos, o que resulta em uma sensação mais responsiva ao motociclista, além de melhorar a lubrificação.
“Os garfos invertidos são muito mais rígidos, porque eles são sustentados pela parte de maior diâmetro do garfo, os sliders. Os garfos convencionais são montados nos pilares“, diz Chris Taylor, da K-Tech. “Alguns garfos invertidos chegam a ter sliders de 53mm de diâmetro, enquanto os convencionais raramente ultrapassam os 43mm, então é fácil entender por que eles são mais fracos. Compare os garfos invertidos e convencionais e você verá que o slider é muito maior nos garfos invertidos.“
Os sliders invertidos preenchem a maior parte do comprimento total do garfo sem ocupar espaço onde é mais necessário, ou seja, na região da roda e do para-lama. Isso reduz a flexibilidade enquanto melhora o manuseio e a sensação de pilotagem. A maior rigidez leva a uma melhor sensibilidade e maior capacidade de resposta ao guidão.
Mas também existem desvantagens. Graças à sua própria natureza, os anéis de vedação dos garfos invertidos ficam mais expostos e têm uma maior tendência a vazar o fluído de suspensão em uso severo. Uma verificação mais frequente, portanto, se faz necessária, do contrário corre-se o risco do vazamento atingir até áreas críticas, como freio e roda.
Além disso, eles são mais pesados, necessitando de mesas superiores e inferiores mais largas, o que também acaba diminuindo o ângulo de direção. Nas pistas, onde o ângulo é muito mais aberto, isso não é um problema. Mas, nos espaços apertados das cidades pode ser.
Como também são mais sofisticados, muitos deles demandam uma manutenção mais complexa, principalmente aqueles com reservatórios de nitrogênio. Os componentes adicionais requerem manutenção profissional com ferramentas especiais. Naturalmente tudo isso é devidamente cobrado no valor da moto e em sua manutenção.
Vantagens
- Maior rigidez
- Melhor sensibilidade
- Melhor estabilidade
- Menor atrito interno
Desvantagens
- Mais caro
- Mais pesado
- Manutenção mais complexa
- Desnecessário nas situações cotidianas
Realmente preciso de um garfo invertido?
A resposta na esmagadora maioria dos casos é… não. O garfo convencional existe há décadas, é baseado em sólidos princípios de engenharia e funciona muito bem na maioria das situações que um motociclista comum enfrenta no dia a dia.
Os invertidos são melhores em condições extremas, como em competições. Mas um garfo telescópico convencional, de boa qualidade e com a rigidez correta pode ser surpreendentemente bom, e mesmo pilotos profissionais tem dificuldade em observar as diferenças.
Então por que então tantas motos de rua têm suspensões invertidas? A importação dos melhores componentes das pistas para as ruas é um processo natural. Mas em muitos casos, é apenas para agregar prestígio mesmo. Quem entende, gosta de ostentar esses aprimoramentos em suas máquinas. Quem não entende também, pois presume que deve ser melhor. A satisfação é o que importa.