O Notícias Motociclísticas entrevistou Wesley Gutierrez, o melhor piloto brasileiro na Moto 1000 GP em 2014, se sagrando vice-campeão. Para esse ano, o paranaense já avisou que vai em busca do título, mas insistiu: falta patrocínio e apoio nos dias atuais.
Não é fácil se destacar como piloto de corridas no Brasil. Embora o país tenha uma rica tradição, com ícones na Fórmula 1 e na MotoGP, os investimentos das grandes empresas são cada vez menores e o clima é de abandono e descaso com o esporte a motor.
Por isso, o exemplo de Wesley Gutierrez deve ser levado em consideração. Nascido há 29 anos em Londrina, no Paraná, Gutierrez começou a competir aos 8 anos de idade, depois de acompanhar o filho de um amigo de seu pai correr de Mobilete 50cc no autódromo Ayrton Senna.
Foi o que bastou para que Gutierrez se apaixonasse pelas motos e imediatamente também passar a competir, tendo como ídolo e inspiração justamente Senna. O paranaense, inclusive, garantiu que o tricampeão foi seu único ídolo: “sempre assistia as corridas dele“, disse.
Nesse rápido bate-papo, Gutierrez contou o que deu certo e o que deu errado em sua ótima temporada 2014, quando venceu duas corridas e chegou à última etapa, em Cascavel (PR) brigando pelo título palmo a palmo com o francês Matthieu Lussiana.
O piloto também deixou suas impressões sobre a atual situação do campeonato, que conta com diversos pilotos estrangeiros; a vontade de competir no exterior barrada pela falta de patrocínios e até deu pitacos sobre a MotoGP. Confira!
Notícias Motociclísticas: Como você avalia o campeonato do ano passado?
Wesley Gutierrez: Foi muito bom. Competi com pilotos estrangeiros, dei muito trabalho e consegui ser o melhor brasileiro no ranking, vice-campeão. Acho que que se não tivesse tido imprevistos, teria sido campeão.
NM: Quais foram esses imprevistos?
WG: Eu cai em Brasília, numa corrida que deveria ter sido cancelada porque começou a chover. Em Goiânia, o pneu da moto furou durante corrida, mas consegui terminá-la em sétimo lugar.
NM: Tirando esses imprevistos, você acha que faltou algo em termos de desempenho? Da moto, da equipe, etc…
WG: Acho que não. A equipe trabalhou muito para chegar onde chegou. O que sempre falta são patrocínios… gostaria de ser um piloto de fábrica, poder ir uma semana antes pra ficar treinando no autódromo, mas isso gera muitos gastos. Tem que ter patrocínio forte.
NM: Gosta da Kawasaki ZX-10? Quais os pontos fortes e fracos dela?
WG: Gosto, ela é muito boa de ciclística, mas no nosso regulamento (que é permitido no máximo 190 cv), as Kawasaki não conseguem atingir isso sem ter que mexer no motor, como colocar um comando (de válvulas especial).
A BMW, por outro lado, já consegue. Entao a Kawasaki é melhor de curva, mais perde um pouco de cavalaria se compararmos com a BMW.
NM: Eles (a BMW) conseguem atingir só mexendo na centralina eletrônica?
WG: Sim. Este ano será ainda mais fácil, pois as novas (BMW) vem com seis cavalos a mais.
NM: Isso nos leva à próxima pergunta: Quais as suas expectativas para 2015?
WG: Quero ser campeão. Vamos trabalhar bastante este ano pra isso acontecer e tentar não cometer alguns erros que cometemos ano passado.
NM: O que você acha da participação estrangeira na Moto 1000 GP? Eles engrandecem o campeonato ou prejudicam a visibilidade dos pilotos nacionais?
WG: Eles ajudam a elevar o nível dos brasileiros, mas todo brasileiro quer ver um campeão brasileiro no pódio e não um estrangeiro (risos)! Vamos tentar mudar este quadro no final do ano.
NM: Então podemos dizer que a Moto1000, com suas quatro categorias já uma boa formadora de pilotos?
WG: Sim, com certeza. Os pilotos que estão andando aqui competem no Mundial de Superbike. Ele, (Matthieu Lussiana, que se sagrou campeão em 2014) ficou em 3º lugar lá e eu consegui disputar o titulo com ele. Foi uma satisfação. Creio que se eu tivesse um patrocínio para correr lá fora, estaria no mesmo ritmo.
NM: Você acha que o escândalo da Petrobrás pode prejudicar o campeonato?
WG: Não, acho que não.
NM: Nada mudou no que concerne ao campeonato? Algo que você tenha notado, nesse sentido (da Petrobrás)…
WG: Que eu saiba, ainda não.
NM: Tens interesse em tentar a sorte na Europa? Quem sabe participar do Troféu Turista (lendária corrida pelas estradas da Ilha de Man, Inglaterra)…
WG: Tenho sim, mais o foco mesmo seria o Mundial de Superbike. Só que vai depender de patrocínios.
NM: E na MotoGP? Tens algum ídolo na atualidade?
WG: O Valentino Rossi e o Marc Márquez.
NM: Qual sua aposta para o título na MotoGP?
WG: Márquez.
NM: Difícil parar o garoto né?
WG: É vai ser muito difícil. Os concorrentes vão ter que conseguir uma moto bem superior pra tentar superá-lo.
Fotos | Moto 1000 GP e Sanderson/Grelak Comunicação