Um dos maiores representantes do motociclismo brasileiro é Rhalf Lo Turco, que reside na Inglaterra e corre no competitivo Campeonato Britânico (British Superbike). Portanto, o Notícias Motociclísticas fez questão de conhecer melhor esse paulista que chegou a ser motoboy em Londres antes de se firmar como piloto.
Nascido em 19 de agosto de 1975, na cidade de São Paulo, Lo Turco é de uma época onde as crianças tinham poucas opções de diversão e os meninos pensavam em motores durante as 24 horas do dia. Quando isso acontece, é difícil voltar atrás e logo as corridas tomaram conta de sua vida.
Depois de assistir Alex Barros correr em seu auge (e outros ídolos do motociclismo como você confere a seguir), o Brasil ficou pequeno para Lo Turco. Por isso, no começo dos anos 2000 ele fez uma ousada mudança para a Inglaterra, um dos principais “berços” do esporte a motor em todo o mundo.
Na Terra da Rainha, Lo Turco chegou a trabalhar como motoboy enquanto competia nas categorias de base do competitivo Campeonato Britânico de Superbikes (BSB). Lá chegou a conquistar o título da série “British TTC Champ” em 2009 e do “Hottrax Superbike” em 2012, antes de subir à divisão principal em 2014.
Além de aprimorar suas técnicas correndo fora do Brasil, Lo Turco adquiriu uma experiência de vida pessoal valiosa, fazendo amigos em ambos os lados do Atlântico. Conosco, por exemplo, o piloto foi extremamente solícito desde o primeiro contato. É essa carreira recheada de aventuras que você conhece um pouco mais a partir de agora.
Notícias Motociclísticas: Como foi o seu começo no motociclismo?
Rhalf Lo Turco: Eu sempre gostei muito de motos, carros… tudo que tem motor eu sempre gostei. Quando era pequeno meu pai tinha posto de gasolina e loja de autopeças, onde foi meu primeiro trabalho. Daí pra frente, sempre estive envolvido com tudo que tinha carros e motos e também graças à meu irmão mais velho que corria de motocross e me levava com ele aos treinos.
NM: Você tinha alguma inspiração? Chegou a acompanhar Alex Barros nas 500cc?
RLT: Sim, com certeza. No posto do meu pai nós tínhamos um pôster do Franco Uncini que se não me engano foi campeão de 500cc em 1982 e, logo em seguida, Freddie Spencer, que ganhou as duas categorias (500cc e 250cc, ambas em 1985). Tive o prazer de ser seu pupilo por 3 dias em Cartagena na Espanha em 2011. E, com certeza acompanhei sim Alex e torcia muito por ele.
NM: Como foi conhecer o lendário Freddie Spencer?
RLT: Ele foi meu monitor durante 3 dias. Foi muito legal. Estávamos no mesmo hotel e sentávamos todas manhãs para tomarmos café da manhã, além de almoçarmos juntos. Ele contava altas historias. Freddie é um cara cheio de bagagem e absorver tudo o que ele me contou lá naqueles dias foi muito bom.
NM: Porque a decisão de ir para a Inglaterra?
RLT: Isso foi pela simples razão de querer sair do Brasil. Eu sempre tive vontade de morar fora, conhecer outros países, outras culturas e aí, como meu irmão mais velho já morava lá, foi mais fácil essa transição.
NM: É verdade que você chegou a ser motoboy?
RLT: Sim, fui motoboy em Londres por 4 anos. Foi uma fase legal de adaptação e trabalho duro, por isso respeito muito os motoboys, tanto daqui como de lá.
NM: Imagino que tenha sido como unir o útil (ganhar dinheiro) com o agradável, afinal somos todos apaixonados por motos…
RLT: Foi justamente o que fiz. Na minha época ainda tinha muito trabalho de longas distâncias, que era o que eu gostava de fazer. Cheguei a trabalhar de Yamaha R1 Honda CBR900RR e já no final tinha uma CBR600 (risos).
NM: Foi difícil a adaptação? Como foram seus primeiros dias na ilha?
RLT: No começo toda mudança é algo muito bom, novidades, tudo diferente, é uma cultura diferente. Mas depois de uns meses, a ficha cai e você começa a enfrentar as dificuldades. Mas tudo passa e, aos poucos, as coisas vão se encaixando.
NM: Quais as diferenças do motociclismo europeu em relação ao brasileiro?
RLT: Os europeus, com relação ao motociclismo, estão à anos luz do Brasil. O BSB (Campeonato Britânico) e o Mundial de Superbike existem a mais de 30 anos, o desenvolvimento das motos e equipes é fenomenal. O Brasil ainda tem muito o que aprender neste sentido, pois sei que temos capacidade de melhorar muito por aqui e temos pilotos muito bons também. Só falta melhorar o nível técnico das equipes.
NM: Você compete hoje no British Superbike, um dos campeonatos mais fortes do mundo. Quais os pilotos que você considera como os mais talentosos?
RLT: Pergunta muito difícil pois para chegar ao BSB, se não tiver talento não entra (risos). É um campeonato muito competitivo, todo piloto que compete no BSB tem algum título em alguma outra categoria, então são todos extremamente talentosos. Aí, com certeza, a equipe que tem os melhores técnicos e o melhor preparo são as que fazem a diferença. Para você ter uma base, em uma pista como Donington Park, a diferença entre primeiro e último é de 2.5 segundos. E estou falando de um grid com 30 pilotos.
NM: Falando nisso, a Inglaterra é um dos países com maior número de circuitos em todo o mundo, quase todos mundialmente famosos. Qual o seu preferido e porque?
RLT: Gosto de quase todos, não tenho um preferido. Mas Donington foi um dos que melhor andei, assim como Cadwell Park (o da famosa montanha) e Brands Hatch, que fica bem perto da minha casa e geralmente ando bem lá.
NM: O ano de 2015 foi marcado por acidentes e problemas mecânicos. O que deu errado?
RLT: Na verdade, a pressão financeira foi o que mais pesou em 2015, pois consegui poucos patrocínios e foi um ano que acelerei muito, porque queria melhorar os tempos que fiz em 2014. Então, a pressão era muito forte. A consequência foram tombos, muitos tombos. Daí, as coisas ficam muito difíceis.
NM: No ano passado você correu a última etapa da Moto1000GP em Curitiba (PR) e vai competir tanto na Inglaterra quanto no Brasil em 2016. O que te atraiu em voltar a correr por aqui?
RLT: Sempre tive vontade de competir aqui, pois é meu país e tenho muita vontade de ganhar um título brasileiro.
RLT: O nível dos ingleses é muito alto, mas temos pilotos brasileiros que também estão em nível alto. Realmente o que falta é um acerto melhor nas motos e acredito que com meu conhecimento e experiência posso andar bem aqui.
NM: Então, o plano é competir só no Brasil em 2016?
NM: Seria bom manter um pé no BSB, que é tão competitivo né?
RLT: Com certeza, é muito bom pra mim, inclusive para manter meus contatos e sempre sou muito bem recebido lá.
NM: Você certamente acompanha a MotoGP, certo? O que achou daquela polêmica no ano passado? Pra você, quem foi o vilão ali, Valentino Rossi ou Marc Márquez?
RLT: Pra mim, na verdade, foram algumas coincidências que levaram ao que aconteceu. Valentino foi um pouco infeliz ao falar que Márquez estava ajudando (Jorge) Lorenzo, pois aí ele despertou a fera em Márquez, o que atrapalhou muito ele. Eu acho que se ele tivesse mantido a boca fechada, chegaria na última corrida com mais chances de ganhar o campeonato. Uma coisa é você falar de alguém que você consegue bater na pista o tempo todo, outra é mexer com um dos melhores do mundo. E, sabendo que o cara é mais rápido que você, não acredito que o que o Vale fez foi muito inteligente. No fim, todos acabaram perdendo: Rossi, Márquez e todo mundo que gosta da MotoGP.
NM: Porquê?
RLT: Essas declarações tiraram a beleza do esporte, pois até então Rossi e Márquez eram amigos. A partir daí ficou tudo muito jogo de interesses. Não gosto quando isso acontece.
NM: Para encerrar, quem você acha que será o campeão esse ano?
RLT: Ainda é cedo pra apostar em alguém, mas os mesmos suspeitos vão estar na frente, daí é só esperar o decorrer do ano pra ver para com quem que rola. Com certeza será bom, mas não sei se Rossi irá conseguir (chegar ao título). Cada ano que passa, as motos e as equipes estão melhores, os pilotos mais rápidos e o jovens chegando como o (Maverick) Viñales e outros que também irão dar trabalho.