A década de 2010 está chegando ao fim e, como era de se esperar, as coisas estão muito diferentes de quando começou. Selecionamos aqui os dez modelos que ajudaram a definir os últimos dez anos.
BMW S1000RR (2010)
Até o início da década, quem procurava por desempenho máximo tinha que optar entre Yamaha R1, Honda CBR1000RR, Suzuki GSX-R1000 ou Kawasaki Ninja ZX-10R. Correndo por fora havia ainda Ducati Panigale e Aprilia RSV4, caras demais e não necessariamente melhores. A BMW S1000RR foi a primeira superbike não japonesa a mudar essa escrita.
Com um motor de quatro cilindros em linha capaz de oferecer até então inéditos 199 cv de potência, design marcante (quem não se lembra das brânquias de tubarão e dos faróis assimétricos?) e uma tecnologia embarcada nunca antes vista, a primeira geração da S1000RR dominou a primeira metade da década nas ruas e nas pistas.
A S1000RR também fez as rivais se mexerem como há muito tempo não faziam. Em 2015, a Yamaha apresentou uma R1 completamente revista. Kawasaki e Suzuki fizeram o mesmo no ano seguinte e a Ducati chutou o balde com a Panigale V4. Agora é a Honda quem está decidida a recuperar o trono perdido. Testemunho de sucesso maior do que esse não há.
Ducati Multistrada 1200 (2010)
Dez anos atrás, quem desejava viajar em algo bonito e confortável tinha basicamente apenas duas opções: uma adventure esquisitona ou uma sport touring desconfortável. A Ducati Multistrada 1200 foi a primeira a mostrar que uma motocicleta podia ser as duas coisas.
Embora a Multistrada seja fabricada desde 2003, foi apenas com o aparecimento da segunda geração em 2010 que a Ducati acertou a fórmula instalando o motor da esportiva 1198 em uma carroceria tão atraente quanto, porém com uma postura relaxada para ficar horas atrás do guidão.
O sucesso foi tanto que a Multistrada tornou-se o modelo de maior sucesso da Ducati e inaugurou um novo segmento de mercado: o das crossovers, hoje povoado por Honda NC750X, Kawasaki Versys, BMW S1000XR, Yamaha Tracer 900 e outras. Agora também há a versão Enduro para sair do asfalto.
Honda NC 700/750X (2012)
Apresentada mundialmente em 2012 e trazida ao Brasil no ano seguinte, a NC700X da Honda (que depois evoluiu para NC750X) é um dos casos mais bem sucedidos de inovação e aceitação imediata em várias partes do mundo, incluindo o imprevisível mercado brasileiro.
A sigla NC significa New Concept e é exatamente isso o que a NC750X é: um novo conceito chamado crossover, que mistura os segmentos sport-touring e big trail. O resultado é uma motocicleta bonita como as esportivas e confortável como as trilheiras de grande porte.
Mas a NC também conquista pela praticidade, com seu imensamente útil porta-objetos no lugar do tanque e consumo de combustível extremamente camarada, o que é sempre um ótimo argumento de vendas. Sem dúvida um dos projetos mais felizes da Honda nos últimos anos.
Yamaha YZF-R3 (2014)
A Kawasaki deu o pontapé inicial com as Ninjas 250/300. A Honda ensaiou uma rivalidade com a CBR250R, mas logo desistiu. Suzuki GSX-R250 ficou apenas na Ásia. E quem realmente se deu bem com o renascimento das pequenas superbikes foi a Yamaha com sua excepcional YZF-R3.
Totalmente inspirada na lendária (e muitas vezes inacessível) YZF-R1, a pequena YZF-R3 deu asas aos sonhos de muitos motociclistas iniciantes graças ao seu ótimo equilíbrio entre potência, ciclística e tecnologia na época de seu lançamento em 2014.
A R3 também conseguiu se sobressair graças à capacidade produtiva da Yamaha, sua rede de concessionárias e facilidades de aquisição, como a volta dos consórcios. Vale lembrar que a Honda ofereceu a CBR250R de forma importada.
Kawasaki Ninja H2/H2R (2014)
Quando surgiram os rumores de que a Kawasaki iria lançar uma esportiva sobrealimentada nos meses finais de 2014, as primeiras reações foram de ceticismo. “Não há mais lugar para devaneios como esse no mundo moderno“, pensaram os críticos mais sisudos. Felizmente estavam todos errados.
Contrariando a tendência, a versão de pista H2R apareceu antes, no Salão de Colônia. De cara entregava 300 cv de potência, um choque até hoje. “Como um ser humano pode controlar isso?” Ainda estávamos entendendo o que uma centralina eletrônica pode fazer. Dois meses depois, no Salão de Milão, a Kawasaki apresentou a versão civilizada, Ninja H2, com a “apenas” 200 cv.
Desde então, a linha H2/H2R assumiu o posto de mais cobiçada do mundo, quebrou recordes de velocidade e deu origem a uma série de modelos sobrealimentados concebidos apenas para serem divertidos, ousados e impressionantes. É bom saber que ainda podemos esperar produtos feitos com emoção sem porquês no Admirável Mundo Novo.
Ducati Scrambler (2014)
A onda retrô não chegou a emplacar no Brasil, mas na América do Norte, Europa e Japão é uma verdadeira febre. Tanto é que hoje praticamente todas as montadoras oferecem pelo menos um modelo do estilo Retrô/Scrambler no mercado, nome que voltou ao vocabulário popular graças a uma importante decisão da Ducati.
Em 2014, a empresa de Borgo Panigale decidiu produzir uma releitura moderna da Scrambler, modelo espartano produzido entre 1962 e 1974 que ganhou status cult. Com o motor V-Twin de 803 cm³ da Monster, ciclística convencional, cores alegres e preço comedido, o sucesso foi instantâneo.
A aceitação foi tão grande que originou uma verdadeira família de modelos: Icon, 1100, 1100 Special, 1100 Sport, Full Throttle, Café Racer, Desert Sled e a pequena Sixty2 de apenas 400cc. Sim, a Triumph já fazia isso antes com a linha Bonneville e a BMW largou na frente com a R nine T. Mas foi o sucesso da Ducati que fez todas as outras enxergarem as reais possibilidades do segmento.
Yamaha MT-07 (2014)
Você se lembra do segmento naked há dez anos? O que havia disponível? Motos de quatro cilindros, quatro cilindros e quatro cilindros. Quem arriscava outra configuração naufragava totalmente como a primeira Yamaha MT-03, que tinha o mesmo motor monocilíndrico da XT660R.
Felizmente a marca dos diapasões não desistiu da linha MT. Em 2013, a série renasceu com a completamente remodelada MT-09 de três cilindros. No ano seguinte, eles criaram a mais leve e acessível MT-07, talvez o maior sucesso global da Yamaha nos últimos dez anos.
Com um empolgante motor de 689 cm³, ciclística acertada, design moderno e recursos tecnológicos, a MT-07 foi a primeira naked bicilíndrica que fez muita gente esquecer as tetracilíndricas. E ainda abriu caminho para que outros bons produtos do segmento fossem finalmente reconhecidos.
BMW G310R (2015)
A gente podia falar da Yamaha MT-03, Kawasaki Z300 ou até da renovada Honda CB 500, modelos que venderam bem mais no concorrido segmento naked. Contudo, optamos por incluir a polêmica BMW G310R apresentada em 2015. Por quê? Porque é uma BMW! E isso significa muita coisa.
Até o final da década passada, não existia uma BMW de 300cc por menos de R$ 30 mil zero quilômetro. Isso só se tornou possível graças a uma Joint Venture com os indianos da TVS Motors, outra iniciativa inédita. Os alemães assinam o projeto e os indianos entram com mão de obra barata. Resultado: motos vendidas nos cantos mais remotos do mundo com preços razoáveis.
A BMW foi a primeira grande marca europeia a perceber que para continuar crescendo no século 21 precisaria estabelecer parcerias. Não por acaso, Triumph e KTM fizeram a mesma coisa, enquanto que Harley-Davidson e MV Agusta (!) já sinalizaram que irão pelo mesmo caminho.
Ducati Panigale V4 (2017)
Assim como Harley-Davidson e BMW, a Ducati também percebeu que precisava se livrar de certas tradições para continuar crescendo. Uma delas era a obrigação dos motores V-Twin. Toda motocicleta da marca italiana tinha de tê-lo e quebrar esse dogma parecia impossível.
Felizmente, graças a homens de visão, como Claudio Domenicali, essas e outras regras finalmente caíram. Apresentada no final de 2017, a Panigale V4 foi concebida especialmente para ser competitiva no Mundial de Superbike, mas suas origens vem da MotoGP.
Obra de arte, o motor “Desmosedici Stradale” de 1.100 cm³ é um desenvolvimento direto da Ducati GP15 e muitas outras soluções de seu projeto podem ser facilmente vistas na Panigale V4, como as asas aerodinâmicas, verdadeira coqueluche entre os fãs. Um grande passo a frente, que os impressionantes números de vendas comprovam.
Harley Davidson LiveWire (2019)
Nesses dez anos, o interesse pelos veículos elétricos disparou e hoje podemos dizer que temos um mercado (internacional) para isso, ainda capitaneado por pequenos fabricantes. Mas quem seria capaz de prever que a primeira grande marca a investir seriamente em uma motocicleta zero emissões seria justamente a Harley-Davidson?
Disposta a mudar a sua imagem conservadora, a marca de Milwaukee desenvolveu a LiveWire por anos com a ajuda de seus próprios clientes ficando pronta no início de 2019. Dotada de um motor com refrigeração líquida chamado “Revelation”, a motocicleta produz 105 cv de potência e um torque instantâneo de 11,8 kgf.m.
A LiveWire tem um aspecto esportivo e seu desempenho também: aceleração de zero a 100 km/h em apenas 3,5 segundos. Mas o enfoque é conquistar motociclistas mais jovens, por isso o sistema de conectividade é de primeira. Só o tempo dirá se estamos diante de um sucesso ou fracasso, mas sem dúvida essa é a aposta mais ousada da Harley-Davidson.