O clima está quente na Aprilia-Gresini. Depois de mais um fraco desempenho no Grande Prêmio da Áustria (que viu os rivais da Ducati fazerem a dobradinha), a equipe está agora uma verdadeira “panela de pressão”, que pode custar até sua participação na MotoGP.
Tudo começou ainda na corrida de domingo (14) quando os dois pilotos, Álvaro Bautista e Stefan Bradl foram penalizados com um ride-through por terem queimado a largada. O descuido minou completamente as chances de somarem pontos, o que motivou ácidos comentários de Roberto Colaninno, presidente do Grupo Piaggio.
“Hoje a Aprilia tinha tudo para demonstrar o progresso da RS-GP. Desde a primeira corrida da temporada, a nova moto tem melhorado gradualmente e não podemos aceitar que erros humanos – seja com a gestão técnica ou como a corrida é conduzida – nos impeçam de demonstrar o nosso verdadeiro potencial e de alcançar os resultados que merecemos. Eu tenho total confiança em Romano Albesiano e na nova moto, mas temos que arregaçar as mangas e trabalhar todos os dias sem descanso, de modo que estejamos melhor preparados para a próxima corrida e continuar a tendência ascendente, que tem sido demonstrada.” (Roberto Colaninno)
Declarações como ‘eu tenho total confiança’ costumam significar na Itália (principalmente no futebol italiano) perigo eminente, sugerindo que o cargo do chefe da equipe, Romano Albesiano poderia estar ameaçado. Na sua declaração, o dirigente passou a bola para os pilotos.
“Eu sou o primeiro a ficar furioso com o resultado da corrida de hoje. Mesmo em um circuito que não nos favorece, tivemos a melhor RS-GP da temporada, uma moto que tem mostrado melhora tangível, tanto em termos de motor, quanto em ritmo de corrida e os tempos são a prova incontestável disso. Se não tivesse tido quaisquer problemas, Alvaro teria facilmente terminado entre os dez primeiros. Não podemos aceitar que, depois de todo esse trabalho, o nosso potencial seja desperdiçado porque os nossos pilotos estão distraídos ou por causa de erros triviais de nossa parte. Como profissionais, espero de Alvaro e Stefan concentração e compromisso máximo até o final do ano, mas eu quero chamar toda a equipe para fazer um esforço extra que vai nos levar a trabalhar sem parar a fim de se preparar para a corrida de Brno.” (Romano Albesiano)
Tratam-se das primeiras alfinetadas ditas publicamente por Colaninno e Albesiano, que até então só elogiava a motocicleta e seus dois pilotos, Bautista e Bradl. Ambos, no entanto não permanecerão em 2017, sendo substituídos por Sam Lowes e Aleix Espargaró.
Apesar das declarações de que a RS-GP está melhorando, o fato é que nos últimos testes coletivos realizados no mesmo circuito da Áustria no mês passado, a Aprilia foi a única equipe a não informar os seus tempos de volta. Segundo o diário alemão SpeedWeek, isso aconteceu por receio de que a novata KTM (que entrará na MotoGP em 2017) fizesse tempos melhores. Cronometragens não oficiais apontam que, de fato, Mika Kallio foi 0s1 mais rápido que Bautista.
A pressão também se deve ao sucesso da Ducati com o chefe Gigi Dall’Igna, que fez o seu nome nas pistas justamente com a Aprilia nas classes menores do Mundial de Motovelocidade e no World Superbike, onde foi tricampeã, com Max Biaggi e Sylvain Guintoli.
Colaninno, portanto, estaria ansioso para mostrar que Aprilia (que deixou sua bem sucedida participação no World Superbike para se juntar à MotoGP em 2015) pode vencer mesmo sem o comando de Dall’Igna. Para tal, a marca gasta em torno de 20 e 30 milhões de euros por ano e se comprometeu em ficar pelo menos cinco anos no campeonato com a Dorna. Na Itália, no entanto, já se questionam quando que a paciência de Colaninno irá acabar.