Pilotos de moto no Rali Dakar não contam com um navegador para dizer-lhes a direção no meio do nada. O seu parceiro é o Road Book, um dispositivo no painel, que necessita de muita perícia para ser decifrado em alta velocidade.
O aparato em si é uma curiosa combinação de antigo e moderno agrupando displays digitais (que apontam o rumo a seguir) e um rolo de papel impresso para que as informações não se percam em caso de pane. É ali que a rota é mostrada, e os pilotos precisam avançar ou retroceder as indicações através de botões nos punhos, dispostos de acordo com as preferências de cada um.
Parece fácil, mas não é ainda mais rodando a quase 200 km/h. O piloto precisa prestar atenção nas marcações impressas e combiná-las com o seu hodômetro, disposto logo abaixo. Isso para não dizer em cuidar dos obstáculos ao longo do caminho, como dunas, pedras, poças de lama e até animais.
Para aumentar o grau de dificuldade, a organização a distribui apenas algumas horas antes da partida, o que literalmente tira o sono dos competidores: “Temos que aprender a navegação e por isso descansamos muito pouco, tenho dormido apenas quatro horas por noite“, admite o piloto espanhol Joanathan Barragán.
Barragán, que veio do motocross, impressiona-se com o esforço físico que o Dakar demanda: “Nos primeiros dias não acontece nada, mas a medida em que os dias vão avançando, você sente que o corpo não responde da mesma forma“, revela antes de listar o que mais sente falta: “uma boa cama e uma boa refeição, além de algum tempo para relaxar.“
Além das dificuldades naturais do percurso, os pilotos de motos e quadriciclos carregam ainda a dificuldade de enfrentar as adversidades sozinhos ao longo do caminho, tendo muitas vezes que esperar bastante até a chegada de ajuda: “No Dakar, as dificuldades sempre aparecem e você precisa aprender a pensar a longo prazo para superar.“
Esse ano, a organização dificultou ainda mais a navegação das motos com a introdução de rotas espelhadas, para que os competidores sejam obrigados a percorrer caminhos diferentes e evitar que sigam a trilha deixada pelos adversários. O caminho pode variar em até 25 quilômetros.
O problema da navegação é tão grande que na edição 2022 muitos competidores se perderam ao interpretar errado o Road Book e quem estava seguindo se deu mal também. Um dos que menos erraram foi Sam Sunderland (GasGas) que acabou ficando com a vitória no final.
Para mostrar em imagens como funciona o Road Book, a Husqvarna, uma das marcas mais fortes no Rali Dakar atualmente, publicou recentemente um vídeo sobre o assunto. Ambos os pilotos, Luciano Benavides e Skyler Howes afirmam que uma boa navegação é o atributo número 1 para quem está em busca da vitória.