O título de Fabio Quartararo em 2021 é o primeiro da França na MotoGP. Mas o país da Torre Eiffel já teve grandes pilotos na Categoria Rainha, como Christian Sarron e Raymond Roche. Conheça alguns deles aqui.
Tecnicamente pode-se até dizer que Quartararo não é o primeiro campeão de uma categoria máxima. Nos anos 1970, quando a 500cc passou a ser considerada a Categoria Rainha, a classe foi ultrapassada pela “Fórmula 750”, com seus motores super potentes de quatro cilindros e dois tempos.
A FIM chancelou a Fórmula 750 para eventos em 1972. No ano seguinte, a classe tornou-se um campeonato britânico, onde o inesquecível Barry Sheene brilhou. Em 1975, a série foi atualizada para o nível de campeonato europeu e em 1977 alcançou o status de campeonato mundial.
O francês Patrick Pons era um dos destaques e conquistou o título de 1979 com uma Yamaha TZ750, motocicleta que passou a dominar completamente a Fórmula 750. Essa hegemonia, bem como a rivalidade que o campeonato estava fazendo às 500cc fizeram com que a FIM descontinuasse a classe após essa temporada.
Pons acabaria morrendo de forma trágica no ano seguinte, quando foi atropelado pelo conterrâneo Michel Rouger no GP da Inglaterra sediado em Silverstone. Mas a França não ficou muito tempo sem piloto. Seu amigo Christian Sarron irrompeu a cena ao tornar-se campeão das 250cc em 1984.
Sempre pilotando uma Yamaha YZR500 nas cores do Team Sonauto, Sarron era um dos pilotos mais conhecidos do período. Embora tenha vencido apenas uma corrida de 500cc, o GP da Alemanha de 1985, o francês ficou em terceiro lugar no campeonato duas vezes, em uma época dominada por pilotos norte-americanos, ingleses e australianos.
Seu irmão Dominique Sarron também era piloto e se destacou bastante nas 250cc no mesmo período. Outros nomes franceses eram Herve Guilleux, Thierry Espie, Eric Saul, Jean-François Baldé (conhecido como Mister Sorriso) e Raymond Roche, terceiro no campeonato de 1984, atrás apenas dos geniais Eddie Lawson e Randy Mamola.
Em 1988, Roche passou a competir no recém formado Mundial de Superbike (WorldSBK), onde foi o primeiro campeão com uma Ducati, em 1990. Esse foi o único titulo da França na categoria ate Sylvain Guintoli repetir o feito com uma Aprilia em 2014.
Aos poucos, a participação francesa nas corridas de moto começou a minguar. Na virada do milênio, o orgulho nacional ficou a cargo de Oliver Jacque, campeão das 250cc em 2000, Arnaud Vicent, que fez o mesmo nas 125cc em 2002, e Randy de Puniet, terceiro na Classe Intermediaria em 2004.
Jaque era considerado muito promissor e conquistou um segundo lugar impressionante na sua primeira corrida pela Kawasaki, atrás apenas de Valentino Rossi na chuva. No entanto, o francês nunca conseguiu se firmar na Categoria Rainha e rapidamente foi substituído por Randy de Puniet.
De Puniet chegou a ter uma carreira bastante longeva, entre 2006 e 2014 por equipes como Kawasaki, LCR (quem não se lembra daquela Honda patrocinada pela Playboy) e Aspar. O francês também foi piloto de testes da Suzuki em seu retorno em 2015 e ainda correu na MotoE em 2019.
Foi com Johann Zarco que a França voltou a figurar no alto do pódio do Mundial. Depois de ser campeão na Rookies Cup em 2007, o piloto de Cannes teve uma carreira tortuosa até atingir a glória na Moto2, onde foi campeão em 2015 e 2016. Sua entrada na MotoGP em 2017 foi uma das mais aguardadas de todos os tempos, mas ele nunca conseguiu traduzir o potencial em vitórias.
Fabio Quartararo, por sua vez, chamava atenção com performances sensacionais no Campeonato Espanhol, o mais competitivo do mundo. Seu ingresso na Moto3 se deu em 2015, mas sua progressão foi modesta, com apenas uma vitória e duas poles na Moto2 em 2018. Mas tudo mudou quando pilotou uma MotoGP pela primeira vez.
Com uma Yamaha M1 da equipe Petronas SRT, Quartararo fez os pilotos da equpe oficial, Valentino Rossi e Maverick Viñales comerem poeira 2019 e 2020, com uma moto mais limitada em termos de atualizações. Performances que garantiram a sua passagem para o time oficial em 2021, onde não decepcionou garantindo o título.
Nos últimos dois anos, Quartararo não foi páreo para a ascensão da Ducati, que passou a dominar completamente a MotoGP. Ruim para Quartararo, bom para Zarco, que finalmente pôde comemorar a sua primeira vitória na Classe Rainha, no GP da Austrália de 2023.
O sucesso de Quartararo e Zarco se reflete no interesse renovado dos franceses pela MotoGP. O Grande Prêmio da França de 2023 bateu o recorde de audiência de todos os tempos, com quase 280 mil espectadores nos três dias do evento.
O ano de 2024 pode ser difícil para os franceses, já que Quartararo permanecerá na Yamaha e Zarco foi para a LCR-Honda, ambas aparentemente sem condições de vencer no curto prazo. Mas é bastante provável que suas sementes para a próxima geração de pilotos franceses já tenha sido plantada.