Giacomo Agostini, o piloto mais bem sucedido da história do motociclismo, com 15 títulos mundiais transformou-se em uma espécie de correspondente da situação na Itália. Isolado em Bergamo, o epicentro do coronavírus no ocidente, o ex-piloto de 77 anos avisa: “Se não seguirmos as regras, vamos prolongar o problema por muitos meses“.
Entrevistado pelo site italiano Sky Sport, Agostini informa que está bem, apesar de pertencer ao grupo de risco, devido a sua idade avançada. O italiano afirma que não vai deixar o confinamento até que a situação na Itália volte a se normalizar.
“Eu me tranquei em casa, felizmente tenho minha sala de troféus, tenho milhares de fotos para arrumar. Tenho arrumado todas desde que comecei. Estou classificando-as por pastas: viagens, amigos“, disse. “É bom lembrar alguns lugares, algumas pessoas, que estavam muito distantes na memória. Eu também fiz uma pasta de ‘personalidades’, que reúne, por exemplo, os presidentes que me escreveram, honras que recebi… e também tenho uma dúzia de motos aqui: eu as limpo, carrego a bateria, as ligo… tenho algumas coisas a fazer. Não é como sair, mas não faltam ocupações“.
Apesar de estar seguro, Agostini admite que está sofrendo com a intensa correria das ambulâncias, cujas sirenes soam noite e dia. A comuna de Bergamo, está a apenas 50 quilômetros de Milão, no norte da Itália. O país já soma 64.000 infectados e mais de 6.000 mortes.
“Sinto um nó na garganta quando, à noite, ouço as sirenes passando. É uma condição muito triste, especialmente em Bergamo, que é o epicentro. É aterrorizante, como os caminhões do exército que levam caixões“, admite. “Também penso em membros da família que estão sendo levados por um ente querido para algum destino… É um momento realmente difícil, eu nunca teria pensado que, dado o nível de medicina e tecnologia, um vírus poderia nos deixar de joelhos“, lamentou.
Agostini também chamou os descumpridores das regras de ‘estúpidos’ e avisa que se os demais italianos não seguirem as instruções de permanecer em casa e as recomendações de higiene, o problema se prolongará por muito mais tempo.
“São uns estúpidos. Aqui ainda vejo pessoas passeando, correndo, até indo à praia“, revela. “Se continuarmos assim, prolongaremos a agonia: o esporte pode recomeçar mais tarde, as empresas se recuperarão quem sabe em quantos meses. É um sacrifício para todos, mas precisamos entender o que está acontecendo. A vida é mais importante do que o dinheiro. Devemos permanecer juntos, respeitar as regras, porque são importantes. Como fizeram na China, onde fecharam tudo, houve um toque de recolher, todos se comportaram de acordo com as indicações“.
Por fim, Agostini acha que a temporada de MotoGP não vai começar tão cedo: “Vamos sair disso, mas ainda vai demorar, porque, quando passar, não poderemos voltar imediatamente aos velhos hábitos“, avisa. “Não podemos pensar em reunir dezenas de milhares de pessoas, este é o grande problema: mesmo quando as infecções começam a diminuir, ainda haverá pessoas doentes, por isso teremos que esperar não apenas que a transmissão pare, mas que todos sejam curados“.