Apesar de jamais ter sido campeã na categoria máxima, a Aprilia tem uma rica história no Campeonato Mundial de Motociclismo, dominando as classes inferiores e revelando pilotos que mudariam a história.
Fundada por Alberto Beggio em Noale, região do Vêneto, Itália, a Aprilia estabeleceu seu nome fazendo scooters e motonetas após a Segunda Guerra Mundial. Na Europa devastada pelo conflito, a prioridade eram veículos pequenos, que consumiam pouco combustível e necessitavam de manutenção básica.
Foi com essas necessidades em mente que surgiram carros emblemáticos como o Mini Cooper na Inglaterra e o Fiat 500 na Itália. Entre as motocicletas não foi diferente e logo modelos da Aprilia como Colibri, Daniela e Embala circulavam por toda a ilha da bota.
O gosto por competições esportivas começou a surgir em provas de enduro, off-road e ralis quando o filho de Beggio, Ivano assumiu a empresa, em 1968. O primeiro piloto a se destacar com uma Aprilia foi Ivan Alborghetti que venceu campeonatos de motocross italianos de 125 e 250cc.
Mas foi apenas nos anos 1980 que a Aprilia começou a se destacar. Em 1985, a marca passou a terceirizar motores para a empresa austríaca Rotax e logo surgiram verdadeiros foguetinhos como a STX 125 e 350. Em 1986, eles lançaram a esportiva AF1, um verdadeiro sucesso nas ruas. O próximo passo, naturalmente, seria dominar as pistas.
A chegada ao Campeonato Mundial aconteceu em 1987. A primeira vitória não tardou a aparecer, no Grande Prêmio de San Marino daquele ano com Loris Reggiani nas 250cc. Daí em diante, a Aprilia se tornaria uma frequentadora assídua dos primeiros lugares nas categorias de base.
O primeiro título surgiu em 1992 pelas mãos de Alessandro Gramigni nas 125cc. O segundo veio logo depois, em 1994, com o japonês Kazuto Sakata. Mas um verdadeiro domínio na classe 250cc aguardava a Aprilia nos anos seguintes.
Com Max Biaggi, a Aprilia papou nas 250cc os títulos de 1994, 1995 e 1996, transformando o temperamental piloto italiano em uma das maiores promessas daquele tempo. Ao mesmo tempo, a equipe planejava a entrada na classe principal, que naquela época era chamada apenas de 500cc.
A entrada nas 500cc se deu pela porta dos fundos em 1996, em parceria com pequenos construtores. Os resultados também foram tímidos, apesar de contar com pilotos de reconhecido talento como Doriano Romboni. Essa primeira fase durou de 1996 a 1998.
Enquanto isso, o sucesso nas classes menores continuava. Em 1997 outro italiano se sagrava campeão nas 125cc. Seu nome? Um tal de Valentino Rossi. Em 1998, o domínio nas 250cc foi tão grande que a decisão de título ficou entre os dois pilotos da equipe, Loris Capirossi e Tetsuya Harada. Os dois proporcionaram o clímax do campeonato ao colidirem na Argentina. O campeonato ficou com o italiano.
Em 1999, foi a vez de Rossi ganhar sua coroa na classe intermediária, antes de se mudar para as 500cc no ano seguinte e mudar a história da competição. Ao mesmo tempo, a Aprilia também entrava de vez na categoria principal, agora com apoio total de fábrica.
Mas se Roberto Locatelli, Marco Melandri, Arnaud Vincent e Manuel Poggiali continuavam a colocar a Aprilia no topo nas 125cc e 250cc o mesmo não acontecia na agora chamada MotoGP. A montadora investiu bastante no começo da era 4 tempos, criando a tecnológica RS Cube, uma moto com acelerador ride-by-wire e válvulas pneumáticas.
Apesar do esforço, a RS Cube era difícil de pilotar. Mesmo nomes de reconhecido talento como Jeremy McWilliams, Regis Laconi, Shane Byrne e Colin Edwards não conseguiram entregar na forma de resultados tudo o que a Aprilia prometia no pacote. Com o crescente aumento nos custos, a montadora decidiu se retirar ao final de 2004.
Nas classes menores, porém, o brilho continuava firme e forte. Foi com motos Aprilia que Jorge Lorenzo e Álvaro Bautista fizeram seus nomes nas categorias de acesso à MotoGP. Os últimos títulos vieram com Julian Simon e Nico Terol nas 125cc, antes da categoria passar a se chamar Moto3 em 2012.
A Aprilia também passou a ser uma das mais fortes do Mundial de Superbike. Sob o comando de Romano Albesiano, os italianos estiveram no topo da categoria entre 2010 e 2012 como velho Max Biaggi e novamente em 2014 com Sylvain Guintoli. É parte dessa estrutura que voltou à MotoGP em 2015.
Devido ao sucesso no WorldSBK, a Aprilia decidiu tentar a sorte mais uma vez na MotoGP antecipando, para 2015, o retorno que estava programado para acontecer apenas em 2016. De lá vieram o chefe de equipe Albesiano e o piloto Marco Melandri, que recebeu a incumbência de pilotar a nova RS-GP ao lado de Álvaro Bautista.
Desmotivado, Melandri logo deixou a equipe, substituído por Stefan Bradl ainda em 2015. Ele e Bautista fizeram de tudo para colocar a Aprilia no grupo da frente em 2016, sem muito sucesso. Assim como a antecessora RS Cube, a RS-GP tinha fama de difícil e pouco confiável.
Para 2017, uma nova dupla de pilotos, Aleix Espargaró e Sam Lowes foi escalada. Com exceção de alguns momentos de brilho, os resultados gerais permaneceram os mesmos. 2019 viu a chegada do experiente Andrea Iannone e de um novo chefe de equipe, Massimo Rivola, que substituiu Albesiano.
O ano de 2020 viu mudanças radicais. Uma nova motocicleta foi desenvolvida, assim como um novo motor V4, que conta com uma angulação mais aberta a 90 graus. Lentamente a Aprilia começou a frequentar o grupo da frente com mais consistência, principalmente pelas mãos de Aleix Espargaró.
Em 2022 veio o grande salto. Com uma RS-GP bem acertada, Espargaró conseguiu vencer o GP da Argentina, a primeira vitória da Aprilia na Categoria Rainha. Foi a única do ano, mas o espanhol lutou pelo título até as últimas etapas. Foram seis pódios ao longo do ano.
Novas vitórias aconteceram em 2023 com Espargaró e em 2024 com Maverick Viñales, sendo o espanhol o único piloto a conseguir ganhar uma corrida sem uma Ducati esse ano. Essa competitividade atraiu o novo campeão, Jorge Martin, a correr com uma Aprilia em 2025. O título mundial é o próximo passo?