Mesmo fora de linha há 10 anos, a Honda CB600F Hornet continua a ser uma das motocicleta mais procuradas da internet, no setor de usadas. Mas o que causa esse fascínio todo? É o que tentamos entender aqui.
Contar a história da Hornet é quase como contar a história do segmento Naked/Streetfighter, que remonta aos anos 1990. Foi naquela década em que esse estilo, na qual mesclam-se elementos de corridas em motos de rua se proliferou.
A primeira naked, assim reconhecida, é a Ducati Monster 900 em 1993. Eles perceberam que retirar as carenagens de uma moto esportiva e colocar um guidão mais alto, fazendo poucas adaptações fica muito legal. A ideia logo foi seguida pela Triumph Speed Triple em 1994.
Os japoneses não queriam ficar atrás e a primeira naked nipônica foi a Suzuki Bandit 600 N em 1995, assim como sua irmã maior, 1200 N no ano seguinte. A receita era a mesma: motorzão potente e confiável em um chassi street. Diversão garantida para qualquer hora do dia.
Logo a Honda também quis participar da festa. A base escolhida foi a CBR 600 F3, na qual o novo modelo herdaria o motor de quatro cilindros, com duplo comando, 16 válvulas e refrigeração líquida, muito moderno para a época.
Na carenada, esse motor rendia 110 cv e 6.8 kgf.m de torque, entretanto na nova naked foi ligeiramente amansado para 94 cv. O chassi em dupla trave de alumínio também vinha da CBR 600 F3. A roda traseira era a mesma da Fireblade.
Na realidade, era uma volta às origens da Honda CB750 Four, que embalou uma geração inteira na década de 1970 e agora era atualizada para os corredores de rua do século 21. Assim, a CB600F Hornet foi lançada no Japão e Europa em 1998.
A inspiração para o nome Hornet (que significa vespa em inglês) vem da sua rabeta alta e gorda, mas não foi utilizado em todos os mercados. Nos EUA é marca registrada da antiga fabricante de automóveis AMC (American Motors Corporation), então a moto era chamada de “599”, a sua cilindrada exata.
Sem frescuras, mas com um painel completo, boa ergonomia e uma insaciável disposição para acelerar, muito disso graças ao comportamento do motor derivado de uma supersport autêntica, a Hornet se tornou um sucesso quase imediato de vendas.
Em 2000 vieram as primeiras mudanças. A roda dianteira passou de 16 para 17 polegadas, o que melhorou a estabilidade em curvas e aumentou a resistência dos discos de freio dianteiros. Uma versão com carenagem, vendida apenas no exterior (CB600FS) foi introduzida.
A terceira leva de mudanças veio em 2003, com a capacidade do tanque de combustível aumentada de 15 para 17 litros, uma solicitação dos proprietários. A Hornet também ficou mais potente, passando para 96,5 cv a 12.000 rpm com um torque de 6.4 kgf.m a 10.000 rpm.
É essa que chegou ao Brasil em 2004. Procurando uma substituta para a CB500, que tinha acabado de sair de linha, a Honda escolheu a Hornet, que trazia evoluções visíveis. Além do motor, com o dobro da potência e cilindros, tinha uma ciclística em sintonia com o que havia de melhor no mundo, abandonando, por exemplo, a suspensão traseira bichoque de sua antecessora.
No exterior, mudanças mais profundas chegaram em 2005, ano em que o modelo ganhou um painel remodelado e suspensões dianteiras invertidas. Esse modelo não veio para o Brasil, assim como as Hornet de outras cilindradas, 250cc e 900cc.
Mesmo assim, os brasileiros logo se apaixonaram perdidamente por sua robustez, relativa facilidade de manutenção e, principalmente, velocidade. Com um piloto leve e algum preparo, uma CB 600F pode superar facilmente os 240 Km/h.
Em 2007, Japão e Europa viram o nascimento de uma Hornet totalmente revista. Com uma traseira em dois níveis, linhas mais contemporâneas e usando a última geração do motor da CBR600RR (com injeção eletrônica) a moto chegou a 102 cv a 12.000 rpm e 6.53 kfg.m a 10.500 rpm.
Os freios, com C-ABS, que combinam a sua atuação nas duas rodas, também era um avanço, pois até então, poucas motos ditas acessíveis ofereciam tal recurso. A eletrônica em motos ainda estava engatinhando na primeira década do milênio.
A Honda decidiu trazer essa geração ao Brasil como modelo 2008. Imediatamente se tornou uma das motos mais desejadas do país e tinha fila de espera, chegando a vender cinco mil unidades mensais, um feito e tanto para uma moto que era cara. Porém, a concorrência começaria se mexer.
Na mesma época, chegou a Yamaha FZ6N, com um motor de 4 cilindros derivado da esportiva R6 e os mesmos princípios técnicos da Hornet. A Suzuki também havia continuado a evolução de suas Bandit, que agora tinham 650cc e 1250cc, refrigeração líquida e injeção eletrônica.
Outro problema do sucesso da Hornet era justamente a sua alta procura, até mesmo pelos gatunos. Em grandes centros urbanos, era perigoso rodar com ela. Para se garantir era necessário fazer seguro, cujo valor muitas vezes era impraticável.
Por volta de 2010, o segmento que a Hornet havia ajudado fundar era tomado por diversas motos que passaram a desafiá-la. As principais eram a Yamaha XJ6, Kawasaki Z750, Suzuki Bandit e, quem diria, as pioneiras Ducati Monster e Triumph Speed Triple, que chegavam ao país.
Apesar da concorrência ter aumentado muito, a Hornet, continuou enfrentando-as de igual para igual, sendo até superior em muitos quesitos na difícil equação de equilibrar potência sem perder a agilidade, combinação que nem todas conseguiam.
Em 2012, a CB600F passou pela sua última reformulação. A traseira ficava mais limpa e elegante, com o suporte de placa em uma peça separada, conforme a tendência. As laterais ficaram na cor do modelo e o painel passou a ser inteiramente digital.
O farol dianteiro também foi remodelado ficando menor e mais parecido com a nova CB 1000R. No mesmo ano, a Honda lançou uma versão carenada, a CBR 600F que, com sua maior penetração aerodinâmica, era melhor para pegar a estrada.
Nessa época, o público começou a mudar. Muitos preferiam abdicar de tanta esportividade por algo mais confortável e acessível. Assim era a Yamaha XJ6N, que não tinha a mesma força da Hornet, mas trazia a mesma presença por menos preço. Algo que fez a Honda parar para pensar.
Gradualmente a sua liderança foi tomada pela XJ6, pela nova CB500R e até pela CB1000R. A Honda, então, tratou de planejar a sua substituta, que viria a ser a CB650F e foi apresentada na Europa no final de 2013 sem trazer a alcunha Hornet.
Com 87 cv, quadro tubular de aço e suspensões convencionais, a CB650F era claramente menos explosiva e carismática, mas superava a CB600F em conforto e condições de uso mais civilizadas, onde o que conta mais é torque em baixos e médios regimes, uma deficiência na Hornet.
Japoneses não são de ficar presos ao passado. Eles gostam de evolução e de olhar para o futuro, por isso, para eles, o fim da Hornet, em 2014 era algo natural. Porém, fabricantes ocidentais, como Ducati, Triumph e BMW não jogam fora bons nomes e seu sucesso fez a Honda dar o braço a torcer.
É por isso que o nome Hornet ressurgiu em 2022 em um modelo inteiramente novo, de dois cilindros, o que para alguns é um sacrilégio. Mas a era das nakeds médias de quatro cilindros derivadas de esportivas acabou. Só resta o status cult e o legado que deixaram.
Honda CB600F Hornet – Ficha Técnica
Motor: 4 cilindros, 16V, DOHC, 599,3 cm³, refrigerado líquida
Alimentação: injeção eletrônica PGM-FI
Ignição: eletrônica
Partida: elétrica
Diâmetro x curso (mm): 67.0 × 42.5
Taxa de compressão: 12.0:1
Potência: 102 cv a 12000 rpm
Torque: 6,53 mkgf a 10500 rpm
Câmbio: 6 marchas, transmissão final por corrente
Chassi: dupla trave de alumínio
Suspensão Dianteira: garfo telescópico hidráulico invertido
Suspensão Traseira: balança articulada tipo link de amortecimento hidráulico e mola helicoidal
Freios Dianteiro: disco flutuante duplo de 296 mm, com pinça de 4 pistões opostos (C-ABS opcional)
Freio Traseiro: disco simples de 240 mm e pinça deslizante de pistão simples (C-ABS opcional)
Pneu Dianteiro: 120/70/17
Pneu Traseiro: 180/55/17
Comprimento (cm): 208,5
Altura/largura (cm): 109/76
Entre-eixos (cm): 143,5
Peso (kg): 173 / 177 (ABS)
Vão-livre: (cm) 13,5
Altura do assento (cm): 80,4
Tanque: 19 litros