O que a Zontes, CF Moto, Lexmoto e QJ Motor têm em comum? Elas apagaram a má fama das motos chinesas no ocidente. Os europeus já estão caidinhos por elas e o mesmo parece estar se iniciando no Brasil.
Há 15 anos, comprar uma motocicleta chinesa era um ato de fé. Cópias mal feitas de motos japonesas vendidas a preços baixíssimos, quando inevitavelmente quebravam, a falta de peças sobressalentes e o péssimo pós-venda transformava-as em sucata, junto com sua reputação.
Vale lembrar, no entanto, que o mesmo aconteceu com a indústria japonesa até o início dos anos 1960. Motocicletas do Japão eram ridicularizadas, mas antes do fim da década, os tradicionais fabricantes americanos, britânicos e italianos estavam de joelhos.
A maré chinesa começou a virar por volta de 2010, na indústria automobilística. Marcas como Chery, JAC e Geely conseguiram furar o bloqueio que as separavam das fabricantes europeias de luxo conseguindo entregar carros tão belos e funcionais como um BMW, por menos preço.
Os tempos são outros e no motociclismo a situação é um pouquinho diferente, é claro. Em busca de veículos livres de emissões, fabricantes consagrados como Honda e Yamaha têm diferentes objetivos, o que significa que o mercado está aberto para o surgimento de novas empresas.
Enquanto Energica e Zero apostam totalmente na eletrificação para se tornar a resposta de duas rodas para a Tesla, é na China que motos produzidas em grande volume estão sendo desenvolvidas, com marcas como NIU e Super Soco inundando as ruas europeias nos últimos anos.
Mas uma das narrativas mais surpreendentes vindas da China é o desenvolvimento de motores a gasolina de maior capacidade. A CF Moto apresentou um motor de dois cilindros em linha de 650cc modular. A extravagante Benda anunciou recentemente um novo V4 para acompanhar sua linha de V-Twins.
Ainda há muitos entusiastas dos motores a combustão por aí, dispostos a pagar para continuar tendo as motos de sempre. É aí que as chinesas investem e elas refinaram sua capacidade de design a ponto de ficarem idênticas a qualquer modelo japonês ou italiano. Um argumento poderoso.
Certo, mas e a qualidade? Muitas empresas ocidentais subcontratam sua fabricação na China para reduzir custos, principalmente no setor de tecnologia e o setor automotivo não é diferente. Isso fez com que a indústria chinesa acelerasse como nunca, o que melhorou os processos de produção.
Em 2005, por exemplo, a BMW assinou um acordo com a chinesa Loncin, que fabrica motores completos para a gigante alemã desde 2007. A CF Moto fez o mesmo com a KTM e mais recentemente motos da QJ Motor estão recebendo o logo da Harley-Davidson, algo inimaginável até poucos anos atrás.
Talvez reconhecendo que seus nomes carecem de apelo, chineses têm adquirido algumas das marcas italianas mais evocativas da história do motociclismo. É o caso da Benelli (QJ Motor) e Moto Morini (Zhongneng) combinando know-how de engenharia chinês com design italiano.
Claro, construir uma motocicleta é uma coisa, mas há muito trabalho oculto que precisa ser feito para levá-las ao mercado e oferecer uma experiência ao cliente que os fará voltar para mais. Isso certamente ainda dá ao fabricantes estabelecidos uma vantagem.
Construir redes de distribuição, nomear revendedores, criar departamentos de garantia, de peças sobressalentes, treinamento e homologação são apenas alguns dos obstáculos. É por isso que muitas preferem joint ventures com empresas estabelecidas, aproveitando sua experiência e infraestrutura.
Mas não parece haver mais dúvida de que a indústria motociclística chinesa parece ter amadurecido o suficiente para isso. É certo que veremos essas novas marcas chinesas de motocicletas e scooters desempenharem um papel importante em nossas vidas nos anos que virão.