A possibilidade de retirada da KTM do Mundial de Motociclismo pode abalar o campeonato de uma forma mais profunda do que se imagina. Afinal são quatro motos a menos no grid de MotoGP, 14 a menos na Moto3 e o fim de um extenso programa de jovens talentos.

Desde que ganhou robustez financeira durante a década de 2000, a KTM abraçou com afinco as competições esportivas, como o Mundial de Motocross (MXGP) Mundial de Rali Raid (onde dominou o Dakar por 18 anos seguidos) e o Mundial de Motociclismo.
Quando a categoria iniciante Moto3 surgiu para substituir as antigas 125cc de dois tempos em 2011, a KTM foi a fabricante que mais fornececeu motocicletas às equipes do Mundial, além de estabelecer um time com apoio de fábrica com o experiente dirigente finlandês Aki Ajo.
Em 2024, treze pilotos correram diretamente com a marca KTM na Moto3, sem contar os três com a insigna Husqvarna, dois com a GasGas e três CFMoto. Todos, no entanto, possuiam a mesma motocicleta RC250GP com outros nomes.
Isso totaliza 21 motos no grid, 14 participaram de todas as etapas do ano. A única adversária da KTM na Moto3 é a Honda, que fornece motocicletas NSF250RW a cinco equipes e 16 pilotos, seis deles durante o ano inteiro. Ou seja, motos KTM são maioria.

Na Moto2, a presença da KTM é mais recente e tímida. Monomotor, a categoria anteriormente era equipada com motores Honda, passando para os Triumph em 2019. Inicialmente, a KTM se limitou a fabricar chassis para a equipe de Aki Ajo. Em 2024, eles correram com chassis Kalex.
Mas a presença da KTM na Moto2 é importante, pois serve de ponte para os pilotos bancados pela marca passarem da Moto3 para a MotoGP. Foi o que aconteceu com os pilotos Miguel Oliveira, Brad Binder, Iker Lecuona, Jorge Martin, Remy Gardner, Raul Fernandez, Augusto Fernandez e Pedro Acosta.
Na MotoGP, a participação da KTM começou em 2017 com duas motos. Em 2019, eles adicionaram mais duas conseguindo a equipe satélite Tech3 da Yamaha. Ocasionalmente uma quinta moto era inscrita como WildCard, para Dani Pedrosa ou outro piloto de testes.
Em 2023, após a saída da Suzuki da MotoGP, a KTM tentou introduzir uma terceira equipe e mais duas motos para acomodar Pedro Acosta e Augusto Fernandez no grid, algo que foi negado pela Dorna. Dessa forma, eles precisaram relegar Pol Espargaró a piloto de testes.

A notícia de que os credores da agora insolvente KTM pediram a saída da marca austríaca de todo o Mundial de Motociclismo pode acarretar um enorme problema. Não apenas a MotoGP perde quatro motos no grid, como a Moto3 poderia ficar serialmente desfalcada.
Certamente a Dorna (e a Liberty Media) terá que entrar em ação para ajudar principalmente as equipes de Moto3 a manterem as motocicletas de forma independente por algum tempo e não desaparecerem na esteira da saída da KTM.
Além disso, a saída da KTM também poderá significar o fim de um grande e bem sucedido programa de jovens talentos, que forma e prepara pilotos desde até antes da Moto3, com a Rookies Cup, patrocinada por sua parceira de longa data, a Red Bull.
