Você sabia que o criador do Rali Dakar foi piloto de motos? Seu nome era Thierry Sabine e sua trajetória foi interrompida após um acidente de helicóptero em 1986. Conheça sua vida repleta de aventuras aqui.
Nascido nos subúrbios de Paris em 13 de junho de 1949, Sabine vinha de uma família rica, filho de um dentista e de uma reconhecida antiquária francesa. Entretanto, desde pequeno sempre teve gosto por aventuras. Ainda muito jovem chegou a competir pela seleção francesa em provas de hipismo.
Depois passou a jogar rúgbi por um curto período, mas tudo mudou quando descobriu os esportes a motor. Suas corridas prediletas eram as de longa duração chegando a participar das 24 Horas de Le Mans. Contudo, gostava mais de motos e, principalmente correr bem longe do asfalto.
Nos anos 1970, Sabine passou a competir de motocicleta no deserto africano e paralelamente dedicava-se a organizar eventos na França. Em 1975 criou a “l’Enduro du Touquet” (hoje L’Enduropale), que acontece anualmente na Côte d’Opale, considerada a maior corrida enduro da Europa. Mesmo sem perceber desenvolviam-se as qualidades que mais tarde seriam imprescindíveis no Dakar.
Em 1977, Sabine participava do rali Abidjan-Nice, com uma Yamaha XT 500, quando se perdeu no deserto da Líbia. Naquela época, os sistemas de resgate ainda eram primários e após três dias de buscas sem resultados, a direção da prova chegou a declará-lo como desaparecido.
Desidratado e sem combustível, o francês ficou vagando desorientado e chegou a admitir que o fim estava próximo. Ainda assim, tinha forças para deslumbrar-se com a paisagem do deserto africano e prometeu a si mesmo que se sobrevivesse iria organizar o maior rali raid já visto.
“Eu não tinha bússola ou relógio, dois dias e duas noites perdidas no deserto, sob um sol que me fez perder o controle da minha mente. Na ausência de sombra eu comecei a produzir uma sensação de claustrofobia… eu entendi que minha vida tinha pouca ou nenhuma valor“, disse na época.
Miraculosamente, Sabine foi encontrado, praticamente no limite por um piloto de um pequeno avião. “Meu amigo, daqui para frente, tudo o que você viver será lucro”, teria dito o piloto à Sabine quando o resgatou. Foi uma experiência que realmente mudaria a vida do francês até o final de seus dias.
De volta à França, Sabine tratou de por em prática o seu sonho no deserto. O objetivo era fazer com que todos passassem pelas dificuldades que passou, porém com organização e segurança. Em 26 de dezembro de 1978, 170 participantes se alinharam na “Place du Trocadéro” em Paris para a primeira edição do Paris-Dakar. “Um desafio para aqueles que vão, um sonho para aqueles deixados para trás“, era o slogan.
Dos 170 participantes que alinharam em Paris, apenas 69 chegaram a Dakar, mas o sucesso foi imediato. A prova teve um enorme crescimento de popularidade nos anos seguintes, apesar dos constantes problemas sociopolíticos nos países africanos. Os veículos também não eram os mais adequados, mas as montadoras abraçaram o desafio como forma aumentar seus próprios limites.
Como criador do Paris-Dakar, Sabine se viu ocupado demais para pilotar e precisou se concentrar à organização em tempo integral. Sempre usando um macacão branco no helicóptero de resgate, o francês logo passou a ser considerado o “anjo da guarda” e uma espécie de pai esportivo dos participantes, em um evento que se tornava cada vez mais famoso.
Em 1982, um dos ilustres participantes era o filho de Margaret Thatcher, a então primeira ministra britânica, que perdeu-se no oitavo estágio. Sabine conseguiu resgatá-lo três dias depois. Em 1985, foi a vez do príncipe Albert e da princesa Caroline de Mônaco a se arriscarem por apenas dois dias.
Em 1986, o Dakar estava maior do que nunca, com a participação de grandes fabricantes e pilotos. No dia 14 de janeiro, o evento viva sua 14º etapa no Mali. Sabine estava trabalhando com o famoso cantor francês Daniel Balavoine em um projeto para distribuir bombas d’água em aldeias remotas da região.
Ao final do dia, eles subiram em um helicóptero para mas uma jornada, quando começava a acontecer uma tempestade de areia na região em meio a uma luminosidade cada vez mais fraca. Apesar de terem pousado a 8 km do objetivo, inexplicavelmente, o piloto decidiu decolar novamente, colidindo com uma duna às 19h20min. Todos os ocupantes morreram instantaneamente.
Sua morte foi um choque e entristeceu até mesmo quem não tinha intimidade com o rali, pois nessa época, o evento era particularmente popular na França, que tinha muitos pilotos e equipes. Por algum tempo o evento esteve ameaçado de acabar.
Desde então, o evento mudou de nome e de rota inúmeras vezes, veio para a América do Sul e agora está na Arábia Saudita. Apesar de alguns acharem que o Dakar não é mais o mesmo, Sabine sem dúvida, estaria satisfeito que seu sonho permanece vivo.
No Deserto do Ténéré, no centro sul do Saara, um memorial foi feito debaixo de uma solitária acácia, hoje conhecida como “Árvore de Thierry Sabine”, fazendo referência ao tempo que vagou sozinho pelo deserto. Confira abaixo o depoimento de Jacky Ickx sobre o fundador do Rali Dakar.