Nessa quinta-feira (20) estamos completando exatos 20 anos sem Daijiro Kato, um dos pilotos japoneses mais promissores a passar pela MotoGP e que poderia ter sido o primeiro de seu país a ser campeão na Categoria Rainha.
Era 6 de abril de 2003, GP do Japão, a primeira etapa da temporada de MotoGP. Daijiro Kato, de 26 anos, vinha na terceira volta, quando perdeu o controle de sua Honda na aproximação da chicane Casio Triangle, a mesma do acidente entre Ayrton Senna e Alain Prost na F1 em 1989.
Kato bateu nas barreiras de proteção a cerca de 200 km/h e foi jogado de volta na pista sofrendo lesões graves na cabeça, pescoço e peito. A corrida não foi parada. O japonês passou duas semanas em coma após o acidente, antes de vir a óbito em 20 de abril, como resultado dos ferimentos.
O acidente de Kato foi o primeiro acidente fatal a ocorrer durante uma corrida de motocicletas do Campeonato Mundial no circuito de Suzuka. Esse também foi o último acidente fatal no circuito até o de Jules Bianchi no Grande Prêmio japonês de Fórmula 1 de 2014.
Foi um acidente que impactou enormemente a comunidade de MotoGP da época. Hoje, é a primeira lembrança que a maioria tem de Kato. Antes disso, no entanto, o japonês era considerado um dos pilotos mais promissores da categoria, um campeão mundial em potencial.
Nascido em Saitama, no centro-oeste do país, Daijiro Kato começou nas motos como muitos outros: com meros 3 anos de idade. Em 1987 estreou no campeonato japonês de mini bikes, onde tornaria-se quatro vezes campeão nacional, de 1988 a 1991.
A sua estreia com motos aconteceu em 1992, ao passo que sua chegada ao Mundial se deu em 1996, com uma participação curinga no GP do Japão de 250cc. No ano seguinte, Kato venceu o campeonato japonês e novamente fez um Wild Card na etapa mundial vencendo com facilidade.
Apesar disso, Kato não disputaria uma temporada mundial completa até 2000, quando finalmente se estabeleceu na classe 250cc com uma Honda. Naquele ano, o japonês vencera quatro corridas e ficou em terceiro na pontuação, atrás apenas do campeão, Olivier Jacque e do conterrâneo Shinya Nakano.
A sua grande temporada de glórias seria no ano seguinte, 2001. Kato ganhou nada menos do que 11 corridas, um recorde nas 250cc e facilmente ganhou o título. Ele também estabeleceu um novo recorde de maior número de pontos na classe intermediária, 322 pontos.
Em 2002, Kato mudou-se para a classe MotoGP com total apoio da HRC e da equipe Gresini. Essa foi a temporada de transição da categoria dos motores dois tempos para quatro tempos, e o japonês disputou toda a primeira metade do ano com a velha Honda NSR500 de dois tempos.
Algumas performances fortes, como um segundo lugar no Grande Prêmio da Espanha, em Jerez, ajudaram a convencer a Honda a entregar-lhe uma novíssima RC211V, de quatro tempos, antes de Alex Barros, que competia com ele pela mesma primazia.
O melhor resultado de Kato na RC211V foi um segundo lugar no Grande Prêmio da República Checa no seletivo Circuito de Brno. O japonês também fez a pole position em sua corrida em casa, em Motegi, vitória essa que ficou com Barros, também já com o modelo de quatro tempos.
Para 2003, Kato permaneceu na Gresini, agora com o patrocínio da Telefónica Movistar trazida pelo seu novo companheiro de equipe, o espanhol Sete Gibernau, oriundo da Suzuki. As expectativas para que o japonês conquistasse suas primeiras vitórias na MotoGP eram altíssimas.
Gibernau herdou a Honda RC211V de Kato e venceu a etapa seguinte a do acidente, na África do Sul, que foi totalmente dedicada à memória do japonês. O espanhol venceria ainda outras três corridas em 2003 e se tornaria em dos pilotos mais populares da MotoGP na década de 2000.
A vaga de Kato foi preenchida pelo compatriota Ryuichi Kiyonari, que só correu na MotoGP naquele ano, mas estabeleceria uma sólida carreira, com três títulos no competitivo Campeonato Britânico (2006, 2007 e 2010), além de participações no WorldSBK, corridas de Endurance e muitas outras.
A morte de Kato interrompeu uma fase de crescimento do Japão no Campeonato Mundial, país que contava com nomes como Tadayuki Okada, Nobuatsu Aoki e Norick Abe. Em 2010, outra tragédia abalou o país, a morte de Shoya Tomizawa em um acidente em Misano.
Mesmo no pouco tempo em que teve, Kato foi capaz de inspirar. O atual piloto da LCR-Honda, Takaaki Nakagami é um notório fã: “Fui a Motegi pela primeira vez numa corrida de MotoGP quando tinha nove anos. Lá conheci meu ídolo, Daijiro Kato. Ele me deu suas botas, eu ainda as tenho. A partir daquele momento eu sabia que queria ser como ele.”